quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Six/Seven


Six 



You used to captivate me by your resonating light
Now I'm bound by the life you've left behind
Your face it haunts my once pleasant dreams
Your voice it chased away all the sanity in me ♫♪


Acordei sobressaltado, a respiração e o coração acelerado. O sonho tinha parecido tão real, que por um momento quando olhei pro lado quase esperei vê-la ali deitada, linda como um anjo, quase pude ouvir sua voz me desejando um bom dia e o lindo sorriso que ela sempre dava quando me via, não importava a hora. Mas tinha sido apenas um sonho e nada mais, deixei meu corpo tombar de novo no colchão e fiquei ali encarando o teto do quarto enquanto meu coração se acalmava. Olhei no relógio na cabeceira da cama, ainda eram cinco da manhã, mais uma noite mal dormida, não me lembrava a ultima vez que tivera uma noite de sono descente, podia ter sido ontem ou séculos atrás, não fazia diferença.
Sabia que não conseguiria mais dormir, então me levantei e fui tomar um banho, tirar o suor do corpo. Fiquei mais de dez minutos debaixo do chuveiro, deixando a água fria correr por meu corpo e levar embora aquela sensação ruim. Como eu pretendia trabalhar para a nova campanha da JI em casa hoje, vesti apenas uma calça simples. Aproveitei que todos ainda estavam dormindo e sem fazer barulho fui até o quarto ao lado, entrando e encostando a porta.
Ontem eu perdera a compostura na frente de Demi quando a vi dentro desse quarto, o quarto que eu costumava dividir com Rachel. Não consegui me livrar de suas coisas depois que ela partiu, ao invés disso mudei para o quarto ao lado, deixei tudo aqui e tranquei a porta, como se isso pudesse manter a dor aqui dentro, bem escondida. Às vezes eu entrava aqui, como agora e ficava sentado olhando pra tudo, me lembrando, todos diziam que fazia mal, que eu devia me desapegar, deixar pra lá, mas nenhum deles tinha passado pelo que eu passei, nenhum deles sentiu a minha dor e eles não conseguiam entender como era difícil. Ela fazia mais falta do que eu era capaz de expressar e tinha um buraco dentro de mim no lugar que ela ocupara um dia, um buraco que eu não acreditava que dava para preencher novamente. Eu só precisava fechar os olhos para lembrar e ouvir o nome dela para me sentir completamente vazio.

__Papai?__ desviei os olhos do porta retrato com a foto do nosso casamento e olhei para a porta.
__O que está fazendo acordada há essa hora Manu?
__Eu tive um pesadelo__ ela sussurrou esfregando os olhos.
__Vem cá__ chamei estendendo os braços.

Ela veio até mim e eu a peguei no colo. Manuela deitou a cabeça no meu ombro e ficou olhando para foto na cômoda com atenção. Eu a abracei, para aliviar o vazio dentro de mim, ela era o motivo de eu acordar todos os dias, ela e Matthew. Apesar de eu não ser o melhor pai do mundo, de fazer um monte de coisas erradas, ela sempre me perdoava, sempre sorria ao me ver, me abraçava apertado e dizia que me amava... Fazia os dias valerem à pena. 

__Sua mãe ficaria tão orgulhosa se pudesse ver a menina maravilhosa que você é__ sussurrei enquanto a embalava lentamente.
__Onde a mamãe está agora?__ ela perguntou.
__Está no céu, junto com as estrelas__ dei um beijo nos seus cabelos__ está cuidando de nós lá de cima.
__Ela vai voltar algum dia?
__Infelizmente não princesa, somos só nós agora.
Ela ficou quietinha no meu colo enquanto eu continuava a acalentá-la, e depois de um tempinho percebi que ela acabara dormindo. Com cuidado levei-a de volta para o seu quarto e a coloquei na cama, a cobrindo. Ainda fiquei um tempinho a observando a dormir, e quando saí encontrei Demi no corredor.
__Manuela já acordou?__ ela perguntou__ precisa de alguma coisa?
__Ela teve um pesadelo, mas já voltou a dormir, não se preocupe. Ainda tem uma hora antes de ela precisar levantar pra ir à escola.
__Tudo bem, vou ficar de olho. 

Depois disso fui pro meu escritório trabalhar e fiquei por lá a manhã inteira. Ouvi quando Manuela e Matthew saíram para ir à escola e ouvi também quando voltaram muitas horas depois, mas continuei trabalhando. Era mais ou menos duas da tarde quando alguém bateu na porta, pensei que fosse Clarissa, que estava sempre vindo até mim para perguntar se eu precisava de alguma coisa, mas era Matthew, ele tinha um copo de refrigerante na mão e a mesma expressão de tédio de sempre.

__O que foi? Precisa de alguma coisa?
__A tia Sel e o tio Peter estão ai na sala querendo falar com o senhor__ ele avisou.
__Tudo bem, estou indo.
Sai da sala e o deixei lá sozinho enquanto ia até a sala ver o que Peter e Selena queriam comigo.
__O que fazem aqui?
__Boa tarde pra você também__ Peter zombou.
__Boa tarde__ murmurei__ o que fazem aqui?
__Vim trazer uns papéis pra você assinar, é urgente e como não vai pra JI hoje eu tive que trazer aqui__ Selena explicou.
__Porque não ligou?
__Que diferença faz?__ ela revirou os olhos__ pare de reclamar e assine logo.
__Eu só vim pelo passeio__ Peter deu de ombros se jogando no sofá. 

Ignorei-o enquanto Selena me explicava do que se tratavam os papéis e mostrava onde eu teria que assinar. Era bastante coisa, e já estava com a mão cansada quando cheguei a ultima folha, foi quando ouvi um barulho estranho vindo do meu escritório e então gritos. Levantei-me correndo para ir ver o que era e encontrei Matthew, Manuela e Demi no escritório. 

__O que aconteceu aqui?
Antes que qualquer um deles pudesse se explicar eu entendi. Os papéis que passei toda manhã estudando, tentando ter ideias para nova campanha, estavam espalhados pela minha mesa, como eu deixara antes de sair, mas agora estava tudo coberto com o refrigerante que Matt tomava anteriormente.
__O que...
__Foi um acidente__ Matthew disse de olhos arregalados__ eu sinto muito.
__Você derramou refrigerante no meu trabalho? Como... __ me aproximei da mesa, pegando os papéis na mão, estava tudo arruinado, manchado ou se esfarelando por conta do refrigerante__ eu passei a manhã inteira trabalhando nisso.
__Foi um acidente pai, a Manuela chegou correndo e esbarrou em mim, eu não...
__Quantas vezes eu já avisei para não entrar no meu escritório? Quantas vezes eu disse pra não comer ou beber nada aqui? É meu local de trabalho, não uma área de lazer, pra isso tem os outros cômodos da casa, que droga Matthew.
__Eu não fiz de propósito.

__Nunca é de propósito, você é um irresponsável, primeiro aquilo com a sua irmã e agora isso, quando é que você vai crescer e começar a agir como um adulto em? Quando vai criar responsabilidade?__ não sei bem como aconteceu, mas de repente estávamos gritando um com o outro, eu perdi completamente a cabeça. Demi pegou Manuela no colo, que nos olhava de olhos arregalados, assustada, ela tentou dizer alguma coisa, defender o Matt, mas eu não queria ouvir.
__Isso, jogue a culpa em mim como você sempre faz__ Matt revidou__ culpe todo mundo pelos seus malditos problemas, ou então vamos fechar os olhos e fingir que não acontece. É assim que você lida com tudo não é senhor Jonas? Você nunca escuta, você sempre é o certo, você sempre está acima de tudo, mas tenho uma novidade pra você, o irresponsável aqui não sou eu.
__Olha como fala comigo garoto, eu sou seu pai.

__É essa a sua resposta pra tudo não é mesmo? Eu sou seu pai__ ele resmungou em deboche__ se é meu pai, devia agir como tal então. Você é um idiota, alguém já lhe disse isso senhor Jonas? Aposto que não, compra o amor de todo mundo com seu maldito dinheiro não é? Eu não estraguei seu trabalho de propósito, mas agora acho que foi bem feito, quem sabe assim não abre a droga dos olhos e começa a ver que não é assim tão perfeito?
E ele saiu correndo da sala, empurrando Demi do caminho e também Peter e Selena que estavam na porta ouvindo tudo. Todos ficaram me encarando por um tempo, sem sabe o que dizer, eu estava tão nervoso que podia socar alguma coisa, mas respirei fundo para me controlar e conforme os segundos iam passando eu fui percebendo a besteira que eu havia acabado de fazer.

__Hum... Eu... Eu vou falar com ele__ Peter disse e saiu do escritório, indo atrás de Matthew.
__Você está bem?__ Selena perguntou.
__Não, não estou__ resmunguei irritado, jogando os papéis arruinados em cima da mesa no chão.
__Papai__ Manuela se esticou no colo de Demi em minha direção, querendo vir pro meu colo.
__Agora não Manuela, eu estou nervoso__ respirei fundo__ Demi, leva ela daqui por favor?
Ela concordou sem dizer uma palavra e se retirou do escritório levando Manuela. Deixei-me cair um minuto na cadeira.
__Eu sou tão idiota__ disse passando as mãos nervosamente pelo cabelo, se usasse um pouco mais de força poderia arrancá-los de tão nervoso que estava__ eu não sei o que estou fazendo Selena, eu sou um péssimo pai, é isso... Eu não presto.
__Você só estava irritado, passou o dia inteiro trabalhando nisso, tem razão de ficar nervoso, Matt vai entender.
__Não, ele não vai entender, não é a primeira vez que isso acontece, meu filho me odeia e com razão.
__Joe...
__Eu não consigo fazer isso Sel__ suspirei__ não sirvo pra ser pai, não sem ela.
__Não diga besteira__ ela revirou os olhos__ todo mundo erra, pare de choramingar e vá lá pedir desculpas pro seu filho.
__Eu não...
__Não estou te dando escolha__ ela me encarou séria__ foi um acidente, já passou. Ele estragou os papéis, você ficou nervoso, brigaram, agora peça desculpa e siga em frente, anda logo. 

Concordei com um aceno de cabeça e fui. Não era a primeira vez que eu e Matthew brigávamos desse jeito, acontecia com muita freqüência, ele estava sempre me provocando e eu perdia a cabeça com facilidade, não importava o quanto eu tentasse ficar calmo. Eu tentava ser um bom pai, tentava ser compreensivo, mas nunca soube como lidar com ele, Rachel era que sempre resolvia tudo, ela tinha o dom de fazer tudo ficar bem com poucas palavras e um doce sorriso, ela me fazia ser melhor, mas agora ela estava morta e eu completamente perdido.
Subi as escadas as pressas, encontrei Demi e Clarissa saindo do quarto de Manuela e fechando a porta, as duas ficaram paradas ali no corredor me olhando, enquanto escutávamos as vozes de Peter e Matthew vindas do outro quarto.

__Matt, ele não fez por mal__ Peter estava dizendo__ só ficou nervoso, você sabe como ele é quando se trata do trabalho.
__Sei bem como é__ Matt respondeu alto, praticamente gritando__ o trabalho é super importante pra ele, mais que qualquer coisa, mais até que os próprios filhos. Não importa o que aconteça comigo contanto que ninguém atrapalhe o precioso trabalho dele.
__Você sabe que não é assim Matt, seu pai te ama.
__Às vezes não parece. Ele só tem tempo pro maldito trabalho, trabalho, trabalho, é isso o tempo todo. 

__É a forma dele de se manter ocupado Matt, de esquecer dos problemas, de seguir em frente, se manter focado em alguma coisa importante faz ele se sentir melhor, você devia tentar entender... Ele perdeu a esposa, sente falta dela.
Demi e Clarissa se entreolharam com vergonha, mas ninguém ali se sentia pior do que eu. O pior era que eu sabia que Matthew estava certo, eu me preocupava demais com o meu trabalho, mas era o que Peter disse, manter minha mente ocupada com o trabalho me impedia de pensar nela, logo era mais fácil suportar o passar dos dias. No começo eu tentei, tentei continuar a vida normalmente, tentei não mudar, mas foi impossível.
A verdade é que eu olho pros meus filhos e vejo ela, penso nela, penso que ela não está mais comigo, lembro que era ela que me ensinava a cuidar deles e então acabo me afastando. Eu achei que guardar minha dor só pra mim seria o melhor pra todo mundo, mas acho que estava errado, o caso é que me acostumei a ser assim, segui por aquele caminho escuro e agora não conseguia encontrar o caminho de volta pra luz. 

__Bom, tenho uma novidade pra ele__ Matt rebateu zangado__ ele não foi o único que perdeu alguém que amava. Ele perdeu a esposa e eu perdi a minha mãe, eu sinto falta dela também e quer saber de uma coisa? Eu preferia que ele tivesse morrido e não ela.
Aquelas palavras foram como um tapa na cara, ou um soco no estômago. Não achei que palavras pudessem machucar tanto. 

__Vá embora por favor__ a porta do quarto se abriu e Matt e Peter me viram ali parado.
Nos encaramos em silencio por um momento, eu pensei em dizer alguma coisa, pedir desculpas talvez por ser um idiota, mas de que ia adiantar? O meu filho me odiava e eu acho que merecia isso. Abaixei a cabeça, lhe dei as costas e desci novamente as escadas voltando até a sala onde Selena esperava. Ouvi passos atrás de mim e logo Peter e Demi estavam também na sala.
__Você ouviu o que ele disse?__ Peter perguntou.
__Que ele queria que eu estivesse morto? É eu ouvi sim.
__Sabe que ele não falou sério não é mesmo? Ele te ama.
__Ele falou sério sim Peter__ eu discordei tristemente__ meu filho me odeia, porque sou um péssimo pai, eu sei que é verdade.
__Joe...
__Esqueça ok?__ o interrompi__ só... Deixa pra lá.
__Eu posso tentar falar com ele__ Demi disse de repente, falando pela primeira vez__ talvez eu possa fazê-lo se acalmar.
__Não vai adiantar de nada.
__Deixa ela tentar__ Peter insistiu__ quem sabe?

Eu apenas dei de ombros, se Peter não tinha conseguido nada, ela também não conseguiria, ela não conhecia Matt. Mas ela foi assim mesmo, pediu licença e voltou a subir as escadas, eu apenas me sentei no sofá e encarei as paredes. Eu queria que as coisas fossem diferentes, mas como podia dar ao meu filho o que ele queria? Como eu poderia ajudá-lo, tentar fazê-lo sentir-se melhor quando eu mesmo não me sentia bem, quando eu mesmo me sentia um lixo? Eu estava tão morto por dentro, tão vazio e não via como podia fazer alguém feliz se me sentia tão infeliz. Eu gostaria que fosse diferente, mas não era.
Fim do Capítulo



These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time cannot erase ♫♪


Aconteceu tudo muito depressa. Num minuto eu brincava com Manuela no quintal, no segundo seguinte ela saiu correndo e rindo, entrou no escritório do pai, já que a porta estava aberta e esbarrou no irmão que estava inclinado sobre a mesa observando distraidamente alguma coisa. O refrigerante que ele tinha em mãos caiu sobre os documentos espalhados na mesa e ai tudo virou caos, Matthew arregalou os olhos assustado e então gritou com Manuela, culpando-a pelo incidente, ela correu pra junto de mim assustada e então Joe apareceu no escritório. A discussão entre ele e Matthew foi das feias, eu ainda tentei ajudar dizendo alguma coisa, mas eles estavam ocupados demais se ofendendo para me ouvir, então levei Manuela embora.
Clarissa me acompanhou enquanto eu levava Manuela para o quarto dela e a punha para brincar. Ela não demorou a esquecer do ocorrido e eu e Clarissa ficamos quietas um minuto no quarto, esperando para ver se a confusão passava, afinal aquela briga não era da nossa conta.

__Essa briga foi das feias__ comentei distraidamente.
__Isso acontece muito por aqui__ Clarissa disse__ Joe e Matthew estão sempre brigando.
__Então essa confusão é frequente?
__Bem, o Matthew gosta de provocar o pai, e o senhor Jonas perde a paciência muito fácil__ ela explicou__ escuta Demi, você é nova por aqui, então não sabe como as coisas funcionam. Eu não devia dizer nada, pois o senhor Jonas pode não gostar, mas se você vai trabalhar por aqui é bom que esteja ciente das coisas.
__Do que está falando?__ perguntei curiosa.
__O senhor Jonas mudou muito depois que a esposa morreu, eu trabalho aqui há muito tempo e sei do que estou falando. Ele era um homem alegre, é bem verdade que nunca foi muito bom com crianças, mas eles eram muito unidos.
__E oque aconteceu então?

__Quando a senhorita Rachel descobriu sobre o câncer tudo mudou. Foi difícil pra ele vê-la definhar daquele jeito e quando morreu ele virou um homem triste, foi como se um pedaço dele tivesse morrido junto, eles eram como uma coisa só, dava gosto de ver. O caso é que pra espantar a tristeza e não pensar nela, ele passa a maior parte do tempo trabalhando e não fala com ninguém sobre como se sente, embora esteja bem evidente. Ele se afastou do filho, não consegue conversar com ele e o menino vive aprontando para ver se consegue chamar a atenção do pai e é assim que acaba__ ela apontou pra porta__ estão sempre brigando.

__Que coisa horrível.
__O Peter e a Selena, e até a mãe dele estão sempre tentando ajudá-lo, mas ninguém consegue.

Era triste saber disso, eu sofri quando o homem que eu amava me abandonou, imaginava como seria ver o amor da minha vida definhar até a morte, não era algo fácil de superar. Não era nada agradável ver pai e filho brigando desse jeito, o que eles precisavam era conversar, se entender, ajudar um ao outro a superar ao invés de se tratarem com gritos, mas eu não era ninguém para me intrometer nesse assunto, eu só estava ali para cuidar da Manuela. Eu tinha meus próprios problemas para cuidar.
O caso é que, quando deixamos Manuela brincando no quarto e resolvemos sair para ver como estavam às coisas, encontramos Joe no corredor e ouvimos Peter conversando com Matthew no quarto. Desviei os olhos do rosto de Joe, ele parecia perdido enquanto ouvia os insultos do filho, mas a pior parte foi quando ouvimos ele dizer: “Eu preferia que ele tivesse morrido e não ela.”
Eu prometi a mim mesma que não ia me intrometer nesses assuntos pessoais, era coisa de família e eu era uma intrusa, mas tive vontade de ajudar os dois a se resolverem e me ofereci para conversar com Matthew. Estavam todos esperando na sala para saber o que ia acontecer e eu parada na porta do quarto dele, criando coragem para entrar e pensando no que eu poderia dizer para melhorar a situação. Respirei fundo e bati na porta.

__Vai embora, não quero falar com ninguém__ ele resmungou de lá de dentro.
Virei à maçaneta mesmo assim, a porta estava aberta, então entrei antes que me arrependesse.
__Eu disse para ir embora__ ele reclamou quando me viu__ o que você quer?
__Só quero falar com você um minto__ pedi encostando a porta e me aproximando dele, que estava sentado na cama.
__Não tenho nada pra falar com você, sai do meu quarto. 

O quarto de Matt não era bem o que eu esperava de um adolescente como ele, assim meio rebelde. Era um quarto organizado, uma das paredes era toda preta e nessa havia muitos desenhos colados, desenhos que ele mesmo devia ter feito, pois havia uma mesa especial com muitos lápis e material de desenho no canto. E eram desenhos muito bons. As outras paredes eram azuis, havia uma escrivaninha no canto, com um computador, a cama era de casal, bem espaçosa, e havia também um violão em um canto. Tinha uma prateleira com livros e também outra com muitos Cds diferentes... Ele devia ter o mesmo gosto para música que a mãe.

__Escuta Matthew, eu sei que não é da minha conta...
__Está certa, não é da sua conta__ ele me lançou um olhar feio, tentando me intimidar.
__Mas... __ continuei a falar mesmo assim__ sei pai não queria te ofender ou te magoar, ele só ficou um pouco nervoso.
__Você não sabe de nada, chegou aqui agora, não conhece ele__ rebateu irritado__ é sempre a mesma coisa, algo dá errado e ele desconta a raiva dele em mim, eu sou sempre o errado. Eu sei que sou só um estorvo na vida dele, ele só me aturava antes por que a mamãe estava viva, e agora é por pura obrigação.
__Isso não é verdade, ele ama você.
__Como você pode saber disso?__ me desafiou.
Ele realmente estava decidido a não mudar de atitude, mas eu ainda não ia desistir.
__Seu pai ficou muito magoado com o que você disse__ comentei o fitando com atenção__ sobre querer que ele estivesse morto.
__Não falei realmente sério__ ele murmurou com um pouco menos de grosseria__ é que concerteza com a mamãe as coisas seriam diferentes.
__Ele não faz por mal, só sente falta dela.
__Eu sinto também, ela era minha mãe__ me lembrou__ é só que ele... Ele parece que morreu junto com ela. Às vezes fica horas trancado no antigo quarto deles com as coisas dela, ele não conversa mais comigo, não tem tempo pra Manu, parece mais um zumbi do que uma pessoa normal. Ele não age como meu pai e sim como meu dono, quer que tudo seja do jeito dele, ninguém pode errar, ele não chora, ele não fala e quer que todos sejam iguais a ele.
__É o jeito dele de lidar com a dor.
__É o que todo mundo fica me dizendo, mas não quer dizer que está certo... Estou cansado disso. 

__Matthew__ me aproximei um pouco mais, falando com suavidade__ você é ainda jovem, nunca esteve apaixonado, por isso não consegue entender como é doloroso perder alguém assim. Sei que você também sofre por ter perdido sua mãe, mas são coisas diferentes, são situações diferentes... Você não entende.
__E você por acaso entende? Como você pode querer me dar um sermão sobre isso? Você não sabe de nada, não passou pelo mesmo que nós, não nos conhece e não tem direito algum de querer vir me dizer como meu pai se sente ou como eu devo me sentir__ ele gritou zangado__ não pode vir até aqui e me dar um sermão, você não é nada minha, não é minha mãe e muito menos minha amiga.
Suspirei, ele de certa forma estava certo, eu não era ninguém para me meter.
__Você tem razão, eu não sou ninguém, só uma babá. Não sou da família, e nem sua amiga, mas poderia ser se você quisesse. Eu não conheço você e você não me conhece, mas isso pode mudar, pode contar comigo se precisar.
__Não preciso da sua amizade, não preciso de ninguém.
__Todo mundo precisa de alguém.
__Não eu__ rebateu rapidamente.
__Sei que está zangado com o seu pai, mas a culpa não é só dele.
__Está querendo dizer que eu tenho culpa?__ ele me encarou incrédulo.
__É fácil criticá-lo quando está nervoso, mas talvez as coisas fossem diferentes se ao invés de desafiá-lo e ficar esfregando seus erros na cara dele, você tentasse ajudá-lo a ser um pai melhor, o pai que você gostaria que ele fosse. Você diz que ele não te ouve, mas alguma vez já tentou conversar educadamente com ele? Já se sentou e perguntou como ele se sentia e disse a ele o que você estava sentindo? Alguma vez tentou entender o lado dele e não só o seu? E não falo só de você, vale pros dois... Se fossem menos cabeça dura, talvez não precisassem brigar o tempo todo.
Ele ficou calado, pela primeira vez sem saber o que me responder.

__Mas, eu sou apenas uma empregada__ ergui as mãos como quem se desculpa__ sou só uma simples babá. Não estou aqui pra te dizer o que pensar ou fazer, ou para te dar sermões, porque sei que isso não ajuda em nada, só aumenta a raiva. Mas se precisar de uma amiga algum dia, saiba que pode contar comigo... Não tem que gostar de mim, mas talvez devesse pensar um pouco no que eu disse.
Matthew ficou calado e abaixou a cabeça parecendo envergonhado, mas eu não achava que ele fosse dar o braço a torcer e admitir que eu estava certa. De uma forma ou de outra eu era só mais uma empregada, mas sinceramente esperava ter ajudado em alguma coisa. Eu podia não ter salvação, mas podia tentar ajudar os outros. Quando cheguei à sala, estavam todos calados, um clima estranho no ar e os olhos vieram todos pra mim. 

__Falou com ele?__ foi Peter quem perguntou.
__Falei sim, ele está um pouco mais calmo, mas... Acho que ele precisa de um tempo, vai superar.
__Sabia que essa conversa não ia adiantar de nada__ Joe suspirou e se esticou pra pegar uns papéis na mesa__ aqui Selena, já assinei todos os papéis.
__Obrigada__ ela pegou os papéis e guardou em uma pasta e então se virou pra mim__ nós não fomos apresentadas ainda, eu sou Selena Gomez, amiga do Joe, e secretária também.
__É um prazer__ apertei sua mão__ sou Demi Lovato, babá da Manuela.
Ela sorriu pra mim, era muito bonita e simpática. Tinha cabelos negros na altura dos ombros, olhos gentis e tinha classe, dava para ver no jeito como falava, nas suas roupas e na postura.
__Também acho que Matt só precisa de um pouco mais de tempo__ ela comentou__ sabe como são os adolescentes, gostam de drama.
__Eles não guardam rancor por muito tempo, se souber o jeito de dobrá-los__ Peter concordou.
Joe nos olhos feio, não parecia muito a fim de ouvir aquela conversa, então todos se calaram. Ele se levantou e caminhou até um pequeno bar que tinha ali na sala, encheu um copo com alguma bebida que eu não conhecia e bebeu tudo num gole só.
__Você conhece o Joe há muito tempo?__ perguntei a Selena para tentar descontrair.
__Sete anos__ ela disse__ minha mãe e a dele são amigas e nos apresentaram. Você é a mulher que salvou a Manu não é mesmo?

__Foi uma mistura de azar e sorte ao mesmo tempo__ dei de ombros.
Falamos mais um pouco, ela perguntou de onde eu era, se estava gostando da cidade, coisas assim e me contou que foi Joe quem lhe ofereceu o emprego de secretária quando ela estava em um momento de necessidade, assim como eu. Foi só quando ela tocou no nome da empresa... JI, que eu finalmente me manquei quem Joe Jonas era e então me senti completamente estúpida por não ter percebido antes. A JI era a empresa de publicidade mais famosa do mundo, e eu já tinha ouvido falar nesse nome... Joe Jonas, mas quem diria que eu viria a ser babá da filha dele?
A conversa não durou muito tempo, Peter estava do outro lado da sala tentando acalmar os nervos de Joe quando Selena o chamou para ir embora pois tinham que voltar a empresa e entregar os documentos que trouxeram para Joe assinar, era um assunto urgente e eles já tinham demorado demais. Estavam se despedindo quando vimos Matthew descendo as escadas. Fez-se um silencio constrangedor enquanto ele caminhava até Joe, meio cabisbaixo. 

__Pai, me desculpe por ter gritado com você e dito aquelas coisas, eu estava zangado, foi errado da minha parte desafiá-lo e eu sinto muito__ ele murmurou um pouco baixo demais.
__Tudo bem__ Joe disse e estava claro pela expressão em seu rosto o quanto estava surpreso por aquelas desculpas.
__E sinto muito ter estragado o seu trabalho__ ele continuou__ não devia estar no seu escritório. Mas antes de derrubar o refrigerante eu estava olhando os papéis da sua nova campanha e acho que posso ajudá-lo.
__Me ajudar?__ Joe ergueu a sobrancelha confuso.
__Eu fiz esses desenhos há um tempo__ ele estendeu a mão com algumas folhas na direção de Joe__ tem haver com o tema da campanha e talvez possam lhe dar alguma ideia pro comercial, era isso que o senhor estava tentando fazer não era?
__Era sim__ Joe concordou pegando os desenhos e olhando rapidamente, depois voltando a encarar o filho__ obrigado Matt.
__Fico feliz por ajudar já que fui eu quem estragou os seus projetos.
__Foi um acidente__ Joe disse__ me desculpe por ter perdido a cabeça e gritado com você.
__Tudo bem. Com licença.
E então ele se retirou, lançando-me um sutil olhar antes de subir as escadas e voltar ao seu quarto.
__Ok, o que foi isso?__ Peter perguntou confuso.
Joe fitou os desenhos na sua mão e depois olhou pra mim com curiosidade, eu corei envergonhada.
__O que foi que você disse pra ele?__ Joe me perguntou__ como conseguiu isso? Ele nunca me pediu desculpas por nada que fez, nunca dá o braço a torcer quando brigamos, pelo menos não sinceramente. 

__Ele é só um adolescente__ dei de ombros__ só precisa saber como falar com ele.
Todos ficaram me encarando de boca aberta e aquilo me deixou incomodada. Eu sempre tive jeito com crianças e adolescentes, cresci no meio deles e ajudei a criar muitos também, eu acho que tinha o dom, eu nasci pra ser mãe, mas nunca teria um filho meu, pois um filho precisava de um pai e eu queria distancia dos homens.
__Com licença, eu vou ver como a Manuela está.
Então sai da sala com todos me olhando e passei o resto da tarde no quarto brincando com Manuela. 

Um comentário:

  1. Ai seguidora nova lindaaa
    amando e adorando a fic...
    Postaaaaaaa
    preciso dela para sobreviver hehe
    bju

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