quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Twelve


Twelve



Means say what no one else would say
You know exactly how to get to me
You know is what I mean ♫♪


Foi uma grande surpresa quando Demi apareceu com os meus filhos na JI. Eu geralmente não trabalhava no domingo, mas estávamos atolados na empresa com o trabalho e eu tive que abrir uma exceção justamente no dia dos pais. Fiquei feliz quando os vi lá, quando vi que se dispuseram a vir até mim e me fazer uma surpresa, e depois me senti mal por tê-los deixado. Voltei a minha sala depois de um minuto e eles não estavam mais lá, só encontrei dois desenhos em cima da minha mesa no meio dos meus papéis. Um deles era de Manuela, ela desenhara a mim, ela, Matthew e Demi, como uma família, também tinha um recado escrito com o que imaginei ser a letra da Demi... “Feliz dia dos pais para o melhor pai do mundo”. Eu claramente não merecia aquilo, mas sorri assim mesmo e depois abri o cartão do Matthew, só estava escrito feliz dia dos pais e dentro tinha uma caricatura minha que ele mesmo fizera.
Olhei pros desenhos e depois para porta, não pensei duas vezes e me levantei apressado.

__Joe, você tem...
__Agora não Selena__ a interrompi__ cancela todos os meus compromissos de hoje, eu to indo embora.
__Indo embora?__ ela pareceu confusa__, mas tem um monte de problema pra resolver e...
__É dia dos pais, e eu sou o dono dessa empresa, resolvo tudo amanhã__ disse decidido__ cancela tudo.
Ela apenas sorriu e concordou, eu saí correndo, esperando que ainda desse tempo, pra minha sorte eles ainda não tinham ido embora, encontrei-os no estacionamento com Arthur, ainda entrando no carro. Aposto que tinha sido Manuela que os atrasara.
__Hey, onde vocês pensam que vão?__ corri até eles, e parei ao alcançar o carro, ofegante pela corrida, eles me olharam surpresos.
__Estamos indo pra casa__ Demi disse__ você está ocupado e...
__Não estou mais, cancelei os meus compromissos__ avisei e sorri__ quem quer comer uma pizza?
Obviamente eles não esperavam uma atitude daquelas de mim, era até estranho eu deixar o trabalho de lado para fazer qualquer outra coisa que fosse, mas eu estava cansado de decepcionar meus filhos, eu queria que todos os dias fossem bons como no aniversário do Matt, queria que as coisas se ajeitassem, mas pra isso eu tinha que me esforçar como eles também estavam fazendo.
__Eu quero__ Matt disse sorrindo.

Era por isso, o sorriso no rosto dele fazia valer a pena qualquer coisa. Mandei Arthur pra casa e levei todos no meu carro para uma lanchonete que Matthew mesmo escolheu, nos sentamos numa mesa e dividimos uma pizza, rimos e conversamos e nunca vira meus filhos tão animados daquele jeito. Depois que terminamos, Manuela quis brincar no parquinho que tinha do lado de fora da lanchonete, Matthew a levou e eu fiquei sentado conversando com Demi. 

__Obrigado por isso__ eu disse quando ficamos sozinhos.
__Não precisa agradecer, eu só dei um empurrãozinho__ ela sorriu__ o resto foi com vocês.
__Fazia um tempo que não passava um dia assim com eles sabe? Eu gostei disso.
__Fico feliz por ajudar__ ela deu um gole em seu refrigerante e me olhou de lado__ posso fazer uma pergunta? Sem querer ser intrometida nem nada, é só uma curiosidade.
__Claro, pode perguntar__ concordei.
__Você já pensou em namorar de novo? Quer dizer... Apesar de tudo isso, você já considerou por as dores e medos de lado e tentar começar de novo? Sabe... Seguir os conselhos da família e dos amigos?
__Eu já considerei a ideia sim__ afirmei__, mas não deu certo. Se eu fosse mesmo me casar de novo ou algo do tipo teria que ser com a pessoa certa, eu tenho uma bagagem pra carregar, tenho dois filhos, minhas manias e minhas dores. Não é qualquer uma que conseguiria aguentar. Teria de ser alguém que me entendesse e respeitasse e não é fácil de encontrar.
__Mas se você achasse essa pessoa daria uma chance? Apesar de tudo?
__Sinceramente eu não faço ideia__ dei de ombros__ não fico pensando nisso, eu... Acho que estou bem como estou, pelo menos por enquanto, apesar de tudo que me dizem, eu me sinto melhor sozinho. Porque pergunta?
__É só que você é um homem ainda jovem e bonito...
__Acha que sou bonito?__ perguntei rindo.
__Claro__ ela respondeu também rindo__ eu também, estou fora de circulação, mas isso não muda os fatos. A garçonete ali no balcão não me deixa mentir, não tirou os olhos de você desde que entramos na lanchonete.
__O que?__ franzi o cenho e olhei na direção que ela indicara__ não está nada.
__Está sim__ ela afirmou rindo__ não para de olhar pra nossa mesa. Ela fica nos analisando, tentando descobrir se nós dois somos um casal, e a essa altura concerteza já percebeu que você usa uma aliança e eu não__ olhei pra minha mão, eu ainda usava minha aliança de casamento, já fazia tanto tempo, era uma parte de mim e eu até me esquecia que estava ali__ como não pode ter certeza se estamos juntos ou não ela fica me olhando, tentando achar defeitos em mim que garantam que somos no máximo amigos.

__Como pode saber disso?__ a olhei curioso__ só porque ela está olhando não quer dizer que esteja interessada.
__Ah por favor__ ela revirou os olhos__ vocês homens gostam de dizer que as mulheres são complicadas, mas isso não é verdade, pode ser pra algumas, mas a maioria de nós é bem previsível e muito fácil de interpretar se prestar atenção. Ela está lá na expectativa de que você note a presença dela... É uma mulher bonita, não se interessaria?
Dei mais uma olhada discreta na direção da garçonete, depois voltei a fitar Demi.
__Ela é bonita sim__ dei de ombros.
__Você não se arriscaria?__ ela perguntou rindo__ ela pode ser a tal mulher super compreensiva, como sabe se não tenta?
__Você está parecendo minha mãe agora.
__Desculpe, eu só achei engraçado. Você deve partir o coração de muitas mulheres por ai.
__E tento passar despercebido__ falei surpreso com o comentário__ não fico dando esperanças a ninguém, mas e você?
__Eu?__ ela fez careta__ você ficaria surpreso, eu sou um repelente de homens descentes ao que consta. Atraio homens bonitos sim, mas todos idiotas, o que é realmente uma pena, mas eu já superei.
Nós dois rimos, e dei mais um gole no meu refrigerante. Achei interessante o fato de como era fácil conversar com Demi e também rir dos meus problemas. A única pessoa com quem eu conversava abertamente era Peter, mas não gostava de falar de minhas dores com ele, nem com ninguém, estavam todos sempre tentando me julgar e me dizer o que fazer, mas ela não... Ela conseguia fazer piada daquilo, dos meus problemas e dos dela, de uma forma que tudo parecia muito natural.
__Vamos fazer um jogo__ ela propôs__ suponhamos que você é um cara comum, veio numa lanchonete e encontrou uma garçonete bonita que está tentando flertar com você, e digamos que se interessou nela. O que você faria? Como chegaria nela?
__Ah não, não gostei desse jogo__ eu fiz careta ainda rindo.
__Porque não?
__Você pode não acreditar, mas a única mulher que eu cantei na minha vida foi a Rachel. Claro que fiquei com outras meninas antes dela, mas todas vieram atrás de mim, Rachel foi à única de quem corri atrás e isso faz uns dezoito anos__ eu disse__ e além do mais, faz quase quatro anos desde que estive com uma mulher, mesmo que eu estivesse interessado, não acho que saberia o que dizer ou como chegar nela... Estou enferrujado.
__Ah, fala sério__ ela disse__ isso é natural, você não se esquece como cantar uma mulher, é instinto.
__Agora você parece o Peter falando.
__Ele é um cara esperto então.
_Fazemos o contrário__ eu propus entrando na brincadeira dela__ se fosse você no lugar dela, o que gostaria que eu fizesse? 

__Tudo bem, eu facilito pra você__ Demi riu se ajeitando na cadeira__ ela não parece muito ousada, se não acho que já teria vindo até aqui falar com você, isso já aconteceu comigo várias vezes, as mulheres podem ser cara de pau quando querem. Se eu fosse ela, acho que gostaria que fosse até lá falar comigo, me cumprimentaria com um oi e me faria um elogio, não uma daquelas cantadas idiotas que os homens costumam dar, mas um elogio de verdade. Poderia falar como estava me olhando e como achou o meu sorriso bonito, ou como reparou na cor dos meus olhos e como eles brilham e no caso dela__ apontou discretamente__ poderia falar do cabelo e como acha sexy a forma que ela brinca com eles enquanto flerta.
Estávamos de frente um pro outro, e o balcão onde a tal garçonete estava ficava atrás de mim, de modo que Demi a fitava enquanto falava, a analisando distraidamente. Mas ao invés de me virar e olhar também, me peguei fitando Demi com um pouco mais de atenção, nunca tinha parado para reparar em nada dela, mas enquanto falava daqueles detalhes foi impossível não prestar atenção. Ela tinha um sorriso bonito, um sorriso tímido na maioria das vezes, discreto. Ela não tinha vergonha de falar o que pensava, depois que começávamos a falar tudo ia fluindo naturalmente e ela parecia mais solta, como agora, enquanto fazia essa brincadeira.
Ela também tinha bonitos olhos, castanhos escuros, mas quando o sol batia do jeito certo pareciam bem mais claros e brilhantes. Um pouco tristes talvez, enquanto falava, como se as palavras a lembrassem de algo triste embora estivesse sorrindo. Os cabelos também eram castanhos, caindo sobre os ombros meio ondulados, ela era uma mulher muito bonita. 

__E depois?__ perguntei a incentivando a continuar, ela tinha também uma voz agradável de ouvir e parecia sempre saber o que dizer nos momentos certos.
__Bem, depois você me perguntaria alguma coisa sobre mim__ ela continuou__ algumas mulheres gostam muito de falar, mas é mais pelo fato de saber se o cara está interessado o bastante pra ficar minutos ou horas ouvindo agente falar sobre nossa vida__ ela deu mais um gole em seu refrigerante, fazendo uma pausa__ então você perguntaria alguma coisa, sobre meu trabalho, ou o que eu gosto de fazer no tempo livre, só para poder puxar conversa.
__Interessante, e o que mais?

__Bem, se a conversa fosse boa você pediria meu telefone__ ela murmurou__ e bem... Eu gosto de caras um pouco mais ousados, daqueles que sabem o que querem e não tem medo de arriscar. E Talvez... Talvez se a conversa tivesse sido muito boa e sentíssemos aquela atração forte, aquele tipo de desejo que quando vem você não consegue controlar, bem... Talvez pudesse se aproximar um pouco mais, pôr o meu cabelo gentilmente atrás da orelha, e me surpreender com um beijo. Um beijo que começasse calmo e lento e fosse ficando mais intenso depois, um beijo que me tirasse o fôlego e que quando terminasse... Me deixaria ali imaginando o que poderia acontecer se você realmente me ligasse, se nos encontrássemos depois.
Ela parecia agora completamente perdida em sua própria história, e eu me peguei do mesmo jeito, completamente absorto em suas palavras. Talvez tenha sido o jeito como ela falava, ou o som suave da sua voz, mas me peguei imaginando como seria estender a mão ali naquele momento e pôr a mecha de cabelo que lhe caia nos olhos atrás da orelha, sentindo a textura dos fios e também da sua pele. Me imaginei inclinando-me para mais perto, juntando nossos lábios num beijo exatamente como ela descrevera, calmo no inicio e intenso depois. Estávamos os dois distraídos, fitando os olhos um do outro sem ver nada realmente, cada um com seus pensamentos, quando ouvi uma voz me chamar.

__Pai__ Manuela apareceu correndo com Matthew logo atrás__ podemos comprar um sorvete?
Foi só quando ela me despertou que percebi que enquanto eu e Demi conversávamos, tínhamos nos inclinado sobre a mesa da lanchonete um na direção do outro. Eu voltei rapidamente pra trás e ela fez o mesmo, parecendo meio confusa.
__Ela está doida por um sorvete de morando__ Matthew disse.
__Hum... Pode comprar__ concordei e lhe entreguei o dinheiro__ cuidado vocês dois. 

Matthew a pegou no colo e saíram novamente da lanchonete para comprar o sorvete na carrocinha ao lado.
Demi tinha os olhos no seu copo de refrigerante e quando os dois saíram ficamos por um tempo em silencio. Acho que no fim das contas Peter estava certo em algumas partes do seu discurso, eu estava sozinho há tempo demais. Passei quase quinze anos ao lado de Rachel e agora ia fazer quatro desde que ela morrera, desde que estive com alguém... Eu não costumava pensar sobre isso, não costumava pensar na falta que uma companhia fazia, sempre ignorava e deixava as palavras e os pensamentos se desfazerem.
Mas agora naquele momento, tocando naquele assunto, pensando sobre isso, fiquei por um momento muito consciente desse tempo que passei sozinho e me peguei imaginando como seria ter alguém do meu lado de novo. O caso era que sempre que tentava me visualizar com uma mulher, era o rosto de Rachel que aparecia, me fazendo sorrir como costumava ser... E ela estava morta, o que me levava de volta ao mesmo ponto de sempre.

__Foi assim que seu ex noivo te conquistou?__ perguntei para retomar a conversa, quebrando aquele estranho silencio__ quero dizer... Sendo ousado, te surpreendendo?
Ela fez uma pequena careta, não parecia muito a fim de tocar no assunto, mas falou mesmo assim.
__Conheci o Alex em uma festa que fui com uma amiga__ ela disse sem me olhar, ainda fitando o copo sobre a mesa__ ele me abordou, queria ficar comigo, mas eu não estava interessada. Lembro que minha amiga deu o meu número a ele mesmo sem eu querer, e ele ficou insistindo a festa inteira. Disse que se eu desse uma chance nunca mais ia esquecê-lo e eu não ia querer saber de mais nada. Achei-o presunçoso demais por causa disso__ ela riu__ o caso é que... No fim da festa, quando eu estava pra ir embora, ele simplesmente me agarrou e me beijou e bem... No fim das contas ele estava certo.
__Foi mais ou menos assim comigo e com a Rachel__ eu disse, ainda surpreso por achar tão fácil falar da Rachel pra ela quando nem com Peter eu conseguia sem sentir-me incomodado, talvez fosse porque eu sabia que ela não ia me julgar__ eu a conheci num parque de diversões, ela estava com a melhor amiga, a Molly, e eu com Peter. Achei-a linda desde que a vi a primeira vez e perseguimos as duas discretamente pelo parque aquele dia, sempre nos mesmos brinquedos, tentando puxar assunto, ela não estava interessada, mas minha insistência fez ela me dar o seu telefone e bem... Deu no que deu.
Ela sorriu, me olhando de lado, meio pensativa.

__Ainda o ama?__ perguntei__ esse Alex?
__Não__ ela fez careta como se a ideia fosse um absurdo__ as pessoas não acreditam quando eu digo que não ,mas é verdade, eu o superei. O caso é que já tive outras decepções antes dele, e essa última foi mais forte e deixou mais marcas. Eu penso em como seria namorar de novo, me casar, mas ai vem aquele medo de que aconteça de novo, de me magoar e acabo desistindo da ideia. Pode parecer covardia da minha parte, mas entre passar o resto da vida sozinha e me machucar de novo, bem... Eu prefiro a solidão.
__Não acho que seja covardia sua, sei como é difícil superar certas coisas. Mas... Correndo o risco de soar como a sua mãe agora, nem todos os caras são como esse Alex, na minha opinião ele é um grande idiota.
__Você acha?__ ela riu.
__Acho sim__ afirmei__ eu no lugar dele não a teria deixado escapar.
Ela ergueu os olhos para me fitar, como se duvidasse das minhas palavras.
__É sério, você é uma mulher bonita, inteligente, divertida e muito gentil__ dei de ombros__ o covarde na história é ele por ter fugido desse jeito. Quer saber o que eu acho que deu errado nesses seus relacionamentos?
__O que?
__Esses caras não te amavam de verdade, se amassem não teriam te enganado assim.
__Acho que está certo__ ela suspirou__ a parte complicada da história é conseguir achar um cara que me ame de verdade, como posso saber se ele realmente gosta de mim ou se sou apenas mais uma conquista?
__Está nos detalhes Demi. Gentil, carinhoso, divertido, qualquer cara pode ser, fingir é fácil, mas o amor de verdade você vê nos pequenos detalhes__ expliquei__ um olhar, uma palavra na hora certa, um gesto. São certas atitudes.
__Você tem sorte__ ela comentou__ quer dizer... É uma pena que sua esposa tenha morrido, mas acho que teve sorte pelo tempo que passou com ela, pois foi verdadeiro e aproveitaram enquanto durou. No meu caso não posso dizer o mesmo, fui feliz enquanto durou é verdade, mas era tudo falso e só me restaram lembranças vazias.
__Pensando desse jeito você está certa.
Ela largou finalmente o seu copo e me fitou com atenção.
__Você acha... Acha que só amamos uma vez na vida? Quer dizer, que só podemos amar uma pessoa?
__Não acho que podemos amar alguém hoje e deixar de amar amanhã, se não, não era amor de verdade, tem diferença entre amar e gostar, entre amor e paixão__ dei de ombros.
_Então no seu caso, acha que mesmo que quisesse não poderia amar outra pessoa, porque o seu amor de verdade era Rachel?

__Sinceramente eu não sei. Não é como se eu tivesse a deixado porque quis, não é como no seu caso, que se separou do seu noivo, mas que ele ainda está por ai, com outra pessoa. Acho que talvez eu pudesse amar sim outra pessoa, mas nunca esqueceria a Rachel. É complicado na verdade, eu não penso muito nisso, a ideia me deixa meio louco, afinal eu conheci Rachel com apenas dezessete anos e passei a maior parte da minha vida achando que estaria com ela para sempre, é difícil mesmo depois de quase quatros anos me livrar desse pensamento.
__Entendo__ ela assentiu pensativa__ eu não acho que o meu verdadeiro amor tenha sido o Alex. Acho que não o encontrei ainda e que talvez nunca o encontre... É meio triste pensar assim, mas como você mesmo disse, é difícil depois de passar por tanta coisa se livrar desse pensamento.
__De uma forma ou de outra, eu tenho meus filhos__ comentei olhando lá para fora e vendo Matthew e Manuela tomando sorvete juntos__ não poderia pedir mais nada.
__Você é um homem de sorte, eles são maravilhosos.
__São sim__ concordei__ e agradeço a você por me ajudar com eles. Eu acho que precisava de alguém que me abrisse um pouco os olhos, que me mostrasse que o que eu estava fazendo estava errado, mas não com palavras e acusações e sim com gestos.
__E eu precisava de um novo objetivo na minha vida__ ela deu um meio sorriso__ talvez tenha sido obra do destino eu encontrar Manuela naquele parque, para que eu pudesse ajudar você e sua família.
Eu sorri enquanto a olhava, reparando que sorria mais quando falava com ela do que tinha conseguido sorrir nesses últimos quatro anos. Talvez tenha sido mesmo obra do destino que ela entrasse na minha vida, uma amiga para me abrir os olhos como aqueles que estavam comigo há mais tempo não conseguiam fazer, como uma espécie de anjo.
__Talvez__ concordei sorrindo__ talvez. 

Ten/Eleven


Ten | Eleven 



There's something about you now
I can't quite figure out
Everything she does is beautiful
Everything she does is right ♫♪


Estava arrumando minhas coisas para ir embora quando Peter apareceu na minha sala.
__Já vai embora?__ ele perguntou me olhando.
__Só vim para resolver um problema__ expliquei__ hoje é aniversário do Matt, tenho que resolver mais algumas coisas pra festa mais tarde e ainda pegar o presente dele. Você vai à festa né?
__Claro__ ele concordou__ seu eu não levar o Diogo ele me mata.
Diogo era filho do Peter, tinha a mesma idade que Matthew, só alguns meses mais novo, pois Molly ficou grávida só um pouco depois da Rachel. Os dois eram melhores amigos, faziam tudo juntos, assim como eu e Peter também. Quando olhava para os dois e os via juntos, me lembrava de quando eu e Peter éramos mais jovens, só adolescentes curtindo a vida, só esperava que Matt não cometesse os mesmos erros que eu cometi.
__O que você vai dar de presente pro Matthew?__ ele perguntou__ eu não sei o que dar a ele, aquele moleque já tem tudo.
__Não se preocupe com presentes, o importante é que vocês estejam lá__ peguei minhas coisas e fui caminhando até a porta__ o meu presente pra ele é uma surpresa, espero que ele goste. Ainda está um clima estranho entre nós dois e eu quero concertar isso hoje, afinal é um dia especial.
__Bem, então boa sorte__ ele sorriu__ agente se vê mais tarde. 

Matthew fazia hoje dezoito anos. Ele queria uma festa para pode comemorar com os amigos e eu concordei, queria que ele aproveitasse o dia e estivesse feliz. Tânia ficou de se encarregar da comida da festa, mas o bolo ficou por minha conta, então quando saí do escritório fui buscar o bolo na confeitaria, que Matthew mesmo tinha escolhido. Depois disso fui direto pra casa.
Quando cheguei, esperava achar Matthew trancado no quarto como sempre, no máximo conversando com os amigos sobre a festa, Demi estaria cuidando de Manuela em algum canto da casa, provavelmente brincando de bonecas e Tânia e Clarissa estariam cuidando da comida, mas quando atravessei a porta da cozinha para deixar o bolo lá, tive uma grande surpresa. Estavam todos reunidos na cozinha... Manuela estava sentada no balcão enquanto Demi, Matthew, Tânia e Clarissa estavam em pé, todos rindo e meio sujos de farinha e chocolate.

__O que estão fazendo?__ perguntei colocando o bolo em cima da mesa.
__Biscoitos__ Manuela respondeu sorrindo__ estamos fazendo biscoitos para o aniversário do Matthew.
__A Demi está nos ensinando a fazer__ Matthew disse.
__É uma receita da minha mãe__ Demi explicou__ são os biscoitos mais gostosos do mundo.
__O pior é que é verdade__ Tânia murmurou de boca cheia__ é uma delícia.
__Aqui, prova__ Demi veio até mim, com um biscoito já pronto em mãos e eu provei.
E Uau, o biscoito era realmente gostoso.
__É uma delicia__ comentei enquanto comia o resto.
Fiquei um segundo observando aquela cena incomum. Se Matt não estivesse com um amigo, ele passava o dia todo trancado no quarto, fazia tempo que eu não o via assim, envolvido em alguma atividade diferente e... Rindo. Ele e Manuela estavam brincando um com o outro e rindo enquanto faziam biscoitos. Eu devia estar de boca aberta porque Demi deu uma risadinha.

__Quer ajudar?__ ela perguntou__ fizemos alguns, mas aí comemos... Queremos deixar mais prontos para a festa do Matthew, seria bom um pouco mais de ajuda.
Matthew me olhou de lado, foi só um segundo, mas percebi por aquele olhar que ele estava esperando que eu recusasse o convite.

__Eu ajudo sim__ concordei e todos me olharam com surpresa, menos Manuela que estava concentrada nos biscoitos e Demi que se limitou a sorrir pra mim, como se me incentivasse__ só vou me livrar dessas coisas, volto em um minuto.
Fui até meu quarto, larguei minha pasta em cima da cama e troquei de roupa, pondo algo mais simples e depois voltei à cozinha. Normalmente eu não faria aquilo, eu recusaria com um meio sorriso e iria pro escritório trabalhar o resto do dia, mas era o primeiro aniversário que Matthew quis comemorar desde que a mãe morrera e ele parecia tão feliz que eu não queria estragar nada com minha antipatia e frequente mau humor. Eu podia ser agradável por um dia. 

_Então, o que eu tenho que fazer?__ perguntei.
__Vem cá, eu te mostro__ Demi chamou.
Passamos um bom tempo ali na cozinha fazendo biscoitos e o mais curioso de tudo foi que me diverti com aquilo, coisa que eu já não fazia há muito tempo. Foi agradável ver meus filhos brincando e sorrindo juntos, Manuela estava tão alegre toda lambuzada de farinha e chocolate, como sempre se alegrava com pequenas coisas e Matthew estava rindo, conversou comigo e com Demi enquanto mexíamos a massa do biscoito, falando coisas sobre os amigos e a festa. Aquela não parecia minha casa, não parecia à família que eu encontrava em casa todo dia quando vinha do trabalho... Mas gostei de verdade da pequena mudança, mesmo que não fosse durar.
Quando terminamos com os biscoitos, fomos todos tomar banho para se livrar da sujeira. Aproveitei para dar logo o presente do Matthew, antes que a festa começasse e ele se ocupasse com os amigos. A plaquinha de “Seja Bem vindo. Menos o papai”, ainda estava pendurada na porta dele, então bati e esperei até que ele viesse abrir pra mim.

__Posso entrar?
__Claro__ ele deu um meio sorriso e me deu espaço pra entrar__ quer alguma coisa?
__Só queria entregar logo seu presente.
Entreguei o presente a ele e observei em silêncio enquanto ele o abria. Tinha guardado dentro de uma pequena caixinha e quando viu o que tinha dentro ele me olhou meio confuso, eu sorri pra ele.
__Uma palheta?__ ergueu a sobrancelha__ isso é falta de grana ou de criatividade pai?
Ele murmurou aquilo em tom de brincadeira, mas não ia entender o significado sem que eu explicasse.
__Não é uma palheta qualquer, é uma palheta da sorte__ eu disse tirando-a de dentro da caixa__ era a preferida da sua mãe, a palheta da sorte dela. Ela a usava quando tinha alguma apresentação importante ou quando queria compor uma música nova, dizia que ajudava.
Ele observou enquanto eu girava a palheta entre os dedos. Era simples, preta com alguns detalhes vermelhos, e estava um pouco velha também, pois era antiga e tinha sido muito usada, Rachel a adorava.

__Eu comprei pra sua mãe no dia que você nasceu__ expliquei__ a palheta dela tinha quebrado, e ela estava precisando de uma nova, então quando voltava do trabalho pra casa eu comprei essa pra ela. Depois que entreguei a palheta na mão dela ela entrou em trabalho de parto... E bem... Ela dizia que deu sorte__ dei de ombros__ achei que você ia gostar. Não é uma guitarra nova, mas...
__Eu gostei__ ele me interrompeu sorrindo, pegando a palheta da minha mão__ de verdade, obrigado pai.
__De nada__ sorri satisfeito por ele ter gostado, achei que contaria mais dar algo que tivesse significado do que um presente super caro que ele usaria uma vez e enjoaria depois__ feliz aniversário Matthew. Eu tenho orgulho de você sabe?
Ele sorriu pra mim__ obrigado pai. 

Depois disso deixei-o sozinho. O restante da tarde passou rapidamente enquanto todos se ocupavam com os preparativos da festa. Ao cair da noite tudo já estava pronto e os convidados começaram a chegar. Primeiro Peter e Molly, com os filhos Diogo e Richard, de três anos. Depois viera Selena e o namorado Justin, e minha mãe e minha sogra chegaram juntas. Os amigos de escola de Matthew vieram depois e logo a casa estava cheia e animada.
Os adolescentes se juntaram no quintal, a beira da piscina, conversando, rindo, dançando. Nós os adultos ficamos sentados no sofá da sala jogando conversa fora, Demi não demorou a se entrosar com todo mundo e já parecia parte da família, ela e Selena estavam se dando muito bem e Manuela só a largara para poder perturbar um pouco os adolescentes lá fora, ela tinha cinco anos, mas às vezes parecia querer ter mais. Depois do bolo, deixei todos conversando na sala e fui até a varanda tomar um ar, olhar um pouco as estrelas, e de onde estava consegui ver Matthew se divertindo com os amigos... Rachel ficaria feliz de vê-lo agora.

__Já se cansou da festa?__ distraído, não percebi quando ela se aproximou e veio se pôr ao meu lado na varanda.
__Só vim pegar um ar.
__Está muito pensativo__ ela comentou. Percebi que ela era sempre cautelosa quando falava comigo, parecia ter medo de se aproximar ou dizer alguma coisa errada, que acabasse me irritando. Acho que a culpa era minha por ter perdido a paciência com ela naquele primeiro dia.
__Na verdade eu estou... __ feliz? Não, essa não era a palavra que eu estava procurando__ satisfeito__ disse por fim, depois de uma breve pausa__ esse é o primeiro aniversário que Matthew quis comemorar desde que a mãe morreu. Rachel sempre fazia dessas ocasiões uma grande festa, ela adorava comemorar e Matt também, mas ele perdeu o gosto pelas festas depois que ela se foi.
__Ele parece estar aproveitando hoje.
__Eu sinceramente não sei o que foi que você fez__ comentei sorrindo__, mas funcionou.
__Como assim o que eu fiz?
__Eu cheguei em casa do trabalho e Matthew estava na cozinha rindo enquanto fazia biscoitos, isso... Você chegou aqui há pouco tempo, então não sabe, mas isso é incrível, meu filho está feliz e se divertindo com os amigos. 

__Eu não fiz nada__ ela disse corando__ eu quis fazer os biscoitos pra ele porque não tinha dinheiro pra presentes. Manuela estava me ajudando e quando ele apareceu, eu só perguntei se ele queria ajudar, não fiz mais nada, eu juro.
Demi podia dizer que não tinha feito nada, mas parecia que aquela conversa que tivera com Matthew no outro dia tinha mudado alguma coisa. Eu só esperava que tudo continuasse assim. Peter me disse que eu estava fazendo mal aos meus filhos com esse meu jeito, talvez isso mudasse agora... Eu podia tentar. 

__O que foi?__ ela perguntou me olhando quando me viu dar um meio sorriso.
__Só estava lembrando de... __ mas me interrompi antes de terminar__ Não é nada, não quero entediar você com meus lamentos.
__Não me entedia, na verdade é bom saber que eu não sou a única cheia de problemas e reclamações da vida__ ela brincou.
__E o que você lamenta?__ perguntei curioso__ você não me parece alguém cheia de problemas.
__Todos temos problemas, acredite__ ela olhou para o céu com um meio sorriso__ todos temos a nossa triste história.
__E qual é a sua? Você já sabe a minha.
__Você não vai querer saber__ ela fez careta__ é mais entediante que a sua.
__Eu vou arriscar, vamos, me conta__ insisti.
Ela não parecia alguém problemática, na verdade parecia o tipo de pessoa que andava por ai sempre feliz e tinha uma solução simples para qualquer problema. Pelo menos ela sabia como resolver os meus com os meus filhos, não conseguia imaginar o que poderia ter de errado com ela.
__Eu tinha um noivo... __ ela começou.
__Esse tipo de história nunca termina bem.
__Não__ ela concordou rindo__ eu peguei ele na cama minha melhor amiga, pelo menos eu achava que ela era minha melhor amiga. Acho que o choque foi maior por conta dela e não dele. Eu já tinha tido uns namorados idiotas antes, nunca tive muita sorte com homens, mas eu continuava sempre tentando, porque minha mãe dizia... “Nem todos os homens são iguais, você vai achar o cara certo um dia”.
__As mães sim são todas iguais.

__Exatamente__ ela concordou__ eu superei esse idiota, ai um tempo depois conheci outro cara, o nome dele era Alex. Ele parecia o cara certo, o cara perfeito. Bonito, carinhoso, divertido, responsável e eu pensei, “Porque não? Pode ser dessa vez, ele pode ser o tal cara”. Quando ele me pediu em casamento eu aceitei, achei que daquela vez ia ser pra sempre, gastei toda minha grana pra arranjar o casamento perfeito e no dia o idiota fugiu e me abandonou na porta da igreja.
__Ele fugiu?__ eu já tinha ouvido falar de noivas fugindo do casamento, mas noivo era a primeira vez.
__É, ele fugiu__ ela afirmou__ o pior de tudo foi que depois de quase dois anos encontrei ele no parque, na cidade que escolhi pra morar para poder esquecer do passado. E ele estava lindo e maravilhoso, namorando, bem sucedido e eu... Bem... Sou eu.
__Bem, sinto muito por isso.
__É, eu superei ele__ ela deu de ombros__, mas... Minha mãe gosta de ficar me arrumando encontros dizendo que eu preciso arrumar um namorado, pois sou muito nova para ficar sozinha só porque sofri uma pequena desilusão.
__Eu conheço bem esse discurso__ fiz careta__ ouço ele quase todos os dias.
__Eu tento explicar pra ela que não quero, que estou bem sozinha, mas ela não consegue entender, sei que ela quer o meu bem, mas eu gostaria que ela simplesmente parasse de tentar me dizer como viver a minha vida.
__Engraçado, é exatamente assim que me sinto.

Era exatamente daquele jeito, claro que eu tinha meus motivos e ela tinha os dela, mas no fim das contas éramos bem parecidos. No outro dia, quando conversávamos e ela disse que me entendia eu não acreditei, mas agora eu achava que talvez ela pudesse entender sim, talvez fosse por isso que ela parecia ter a solução dos meus problemas, e de certa forma ela sabia como eu me sentia. Gostaria que Peter e os outros fossem assim também, que eles fossem capaz de entender. 

__Uma vez eu dei descarga no meu peixinho__ ela falou de repente, quebrando o silencio.
__Como é?__ eu a olhei confuso.
__Eu estava tentando fazer uma piada__ ela fez careta__ é que o clima ficou estranho de repente com esse papo de problemas e tudo o mais, achei que a história do peixinho fosse melhorar.
Eu não consegui segurar, ao ouví-la dizer aquilo e a expressão no seu rosto, eu tive que rir.
__Não ria, é verdade, eu joguei ele na privada e dei descarga, queria ver o que acontecia. Você nunca fez nenhuma loucura?
__Eu engravidei minha namorada aos dezessete anos__ falei e ela me fitou séria__ e também quase pus fogo na cozinha uma vez enquanto tentava fazer macarrão... Eu nunca fui bom cozinheiro.
E de repente, não sei exatamente como, estávamos nós dois ali na varanda gargalhando como dois idiotas. Eu não lembrava quando fora a ultima vez que eu rira daquele jeito, parecia que tinha sido um século atrás. Mas eu gostei da sensação, me senti mais leve, como se um peso de repente saísse de cima de mim. Mas ela foi parando de rir de repente e olhou pra dentro da casa.
__O que foi?__ perguntei confuso.
Segui seu olhar e ali na sala, nos observando através da porta de vidro, estavam Peter, Molly, Selena, minha mãe e minha sogra, que segurava Manuela no colo e o Matthew, que ia passando com seu refrigerante, mas parou junto com todo mundo.
__Porque eles estão nos encarando?__ Demi perguntou.
__Eu não faço ideia.
Ela pediu licença e completamente envergonhada pegou Manuela do colo da minha sogra e foi colocá-la para dormir pois já estava ficando tarde. Eu entrei também, enquanto todos continuavam ali olhando.
__O que vocês estão fazendo?__ perguntei irritado__ ficaram todos loucos?
__Não, é só que... Vimos você gargalhando e não acreditamos__ Peter comentou__ você estava rindo.
E pronto, os sinais do bom humor desapareceram.
__Você está se sentindo bem?
__Eu estava, mas agora não estou mais, graças à vocês__ revirei os olhos__ não teve a menor graça, com licença.
Eu sabia que o espanto deles não era infundado, realmente fazia séculos que eu não ria com tanta vontade, mas esfregar isso na minha cara não tinha a menor graça, muito pelo contrário. Deixei todos eles na sala e subi as escadas. Encontrei Demi no quarto de Manuela, ajudando-a a trocar de roupa.
__Hey, veio dar boa noite a Manu?
__Na verdade vim pedir desculpas pela falta de educação da minha família.
__Ah, não tem problema__ ela sorriu divertida__ estou acostumada com pessoas estranhas.
__Que bom então__ sorri também__ vou deixar vocês em paz. Boa noite Manu.
Me inclinei para lhe dar um beijo e ela também me deu um na bochecha, sorrindo como sempre.
__Boa noite papai.
__Boa noite Demi.
__Boa noite.
Deixei as duas sozinhas e fui para o meu quarto dormir, sentindo-me estranhamente bem. Tinha sido um dia melhor do que eu planejara. 




Just smile and the world
Will smile along with you
That small acts of love
Then the one will become two
If we take the chances
To change circumstances
Imagine all that we could do ♫♪

Era domingo, dia da minha folga. Mas também era dia dos pais.
Eu não tinha um pai com quem comemorar há muito tempo, mas Matthew e Manuela tinham e resolvi adotar como novo projeto, ajudar Joe a se dar bem com os filhos. Eles eram uma família bonita, se amavam, mas precisavam de um empurrãozinho para ficar bem, e eu queria ajudar, já tinha me apegado a eles, mesmo sem querer. Manuela era a menina mais meiga e fofa que já conheci na vida, Matthew tinha seu lado rebelde e fechado, mas se soubesse lidar com ele dava pra ver que era um garoto gentil e agradável e Joe também era um grande homem, um pouco fechado e com suas mágoas, mas mesmo assim um homem incrível. Era um emprego temporário, mas não significava que eu não pudesse fazer a diferença nesse meio tempo.
Joe não estava em casa aquele domingo, teve de ir resolver algum problema na empresa, então resolvi ajudar os filhos a lhe fazer uma surpresa. Manuela adorou a ideia e me pediu ajuda para fazer uma carta para o pai, ela fez um desenho da família, o pai, ela, Matthew e me colocou lá também, como se eu fosse parte da família. Já Matthew não pareceu muito contente com essa ideia da surpresa, e recebeu a ideia com uma careta. 

__Eu não acho isso uma boa ideia__ ele resmungou, estava de cara feia, mas não foi grosseiro.
__Porque não? É dia dos pais... Ele é seu pai__ lembrei-o.
__Eu sei que é dia dos pais__ ele revirou os olhos__, mas você já sabe como meu pai é com o trabalho, ele não vai gostar dessa surpresinha, ele não gosta que o perturbem quando trabalha.
__Mas hoje é um dia especial, eu tenho certeza que ele vai adorar__ insisti.
__Pode levar a Manuela, eu não vou__ disse decidido.

Ele já não estava tão agressivo comigo quanto antes, depois daquela nossa conversa e do aniversário dele, ele me tratava com um pouco mais de gentileza, do jeito Matthew dele de ser, mas era um avanço. Decidi que para conseguir o que queria dele precisaria oferecer algo em troca, eu tinha que tentar fazer com que ele confiasse em mim e soubesse que posso ser sua amiga e que ele podia contar com a minha ajuda sempre que precisasse. Então recorri a minha sabedoria e meu lado feminino.

__Se você vier comigo para fazer a surpresa pro seu pai, eu te ajudo com a menina que você gosta.
__O que?__ ele deu uma risada nervosa__ não sei do que você está falando.
__Vamos Matthew, porque não pulamos essa parte?__ sorri pra ele__ eu ouvi você falando dela com o Diogo no telefone, sobre querer comprar um presente pro aniversário dela que está se aproximando e... Também vi vocês dois na festa no dia do seu aniversário, você olhava pra ela igual um bobo apaixonado.
__Você estava me espionando?__ acusou na defensiva.
__Não, eu só tenho olhos e ouvidos__ dei de ombros__ não precisa negar, não tem nada de errado em estar apaixonado.
__Não estou apaixonado__ ele corou envergonhado.
Cruzei os braços e o fitei séria, demonstrando que não ia desistir assim fácil.
__Ok, pode ser que eu esteja gostando de alguém__ ele disse sem jeito__ como você me ajudaria?
__Posso te ajudar a escolher o presente pra ela, algo que demonstre que você está interessado__ eu disse__ eu quero ser sua amiga Matt, quero ajudar, mas só posso se você deixar.
__Eu não sei__ ele ainda estava na duvida.
__Você não quer que seu pai mude?__ perguntei__ não quer que ele te dê mais atenção? Que se solte mais? Você precisa ajudá-lo, precisa incentivá-lo e mostrar que quer estar mais próximo dele. Vamos, é só por uma hora, não vai doer.
Ele pensou nisso por um instante, depois suspirou e eu percebi que tinha vencido.
__Tudo bem, eu vou com você__ ele revirou os olhos.
__Ótimo, e não esqueça de levar algo para dar de presente a ele.
__O que?
__Pode ser um desenho, só pra demonstrar que se importa, vamos... Ânimo.

E sai do quarto antes que ele pudesse reclamar de mais alguma coisa.
Saímos de casa depois do almoço. Arthur aceitou nos levar até a JI de muito boa vontade, ele aprovou a minha ideia da surpresa para o Joe. Matthew parecia entediado como sempre, sem grandes expectativas, mas não reclamou mais e Manuela estava toda feliz, como era típico dela. Eu ainda não tinha visitado a JI e fiquei impressionada quando a vi a primeira vez. Matt foi o nosso guia, pois ele conhecia tudo muito bem e sabia onde ficava a sala do pai.
Selena estava em sua mesa do lado de fora do escritório e sorriu ao nos ver.

__Hey, o que vocês estão fazendo aqui num domingo?
__Viemos fazer uma surpresa pro Joe__ eu disse__ de dia dos pais.
__Que legal__ ela disse animada__ eu acho que ele vai gostar.
__Então ele está ai? Podemos ver ele?
___Claro, venham comigo.
Seguimos ela até a sala do Joe. Selena foi primeiro, bateu na porta e abriu só um pedacinho, para que ele não nos visse ali.
__Joe, está ocupado?__ ela perguntou.
__Pode falar Selena.
__Você tem visita.
Selena abriu a porta e nós entramos. Joe estava sentado em sua cadeira, à mesa a sua frente estava repleta de papéis e ele parecia bem concentrado no trabalho, mas sorriu um pouco confuso quando nos viu entrar.
__Hey, o que você estão fazendo aqui?__ ele se levantou e deu a volta na mesa para vir até nós.
__Viemos fazer uma surpresa.
__Feliz dia dos pais__ Manuela e Matthew disseram juntos.
Manuela pulou do meu colo para o de Joe, o abraçando com força e dando aquele sorriso fofo que só ela tinha.
__Nossa, eu realmente não estava esperando por isso__ Joe disse e depois me olhou__ isso foi ideia sua não foi?
__Eu não fiz nada__ menti dano um empurrãozinho em Matthew para que ele falasse__ só vim acompanhá-los.
__Pai__ Matthew começou a falar, sem muita vontade, mas estava se esforçando__ nós queríamos dizer que...
Um telefone começou a tocar, interrompendo o que ele dizia, Joe pediu desculpas e correu pra atender. Nós esperamos em silencio enquanto ele falava no telefone e Manuela, ainda em seu colo brincava com sua gravata. Depois de um longo minuto, ele desligou o telefone e me entregou Manuela.

__Desculpa por isso__ ele disse apressado__ estou meio atolado hoje e tenho que resolver um problema urgente. Se vocês puderem esperar só um pouquinho, eu volto num minuto.
E saiu da sala antes que qualquer um de nós pudesse dizer qualquer coisa. Matthew suspirou e largou os desenhos que ele e Manuela tinham feito em cima da mesa, no meio dos papéis dele.
__Eu disse que isso não ia dar certo__ Matthew disse__ foi perda de tempo.
__Ele já vai voltar__ tentei animá-lo.
__Não, ele não vai__ revirou os olhos__ ele vai demorar séculos resolvendo os problemas dele, eu disse que agente não devia incomodá-lo no trabalho.
__Matthew...
__Podemos ir embora, por favor, Demi?__ ele pediu educadamente__ eu estava compondo uma música nova com minha palheta da sorte antes de você me interromper e me fazer perder uma hora do meu dia. Vamos embora.
__Ok__ me dei por vencida__ vamos embora.
__Sinto muito por isso__ Selena disse__ ele não faz por mal, é que hoje é um dia cheio aqui na empresa, tivemos um problema com a nova campanha e tem uns detalhes da festa na próxima semana.
__Tudo bem Selena, foi uma ideia estúpida mesmo__ dei de ombros__ agente se fala depois.
Nos despedimos de Selena e voltamos ao estacionamento para encontrar Arthur. Manuela continuava contente, alheia ao clima estranho e ao mau humor do irmão logo ao lado. Essa energia dela era contagiante, gostaria de ser assim como ela, não deixar que nada me afetasse, estragasse o meu dia. 
Bem, eu tinha tentado... Foi uma pena que minha ideia não tinha dado certo. 


Eight /Nine


Eight | Nine



Anything that’s worth having
Is sure enough worth fighting for
Quiting's out of the question
When it gets tough gotta fight some more ♫♪


Estava na minha sala tentando trabalhar, tentando focar os pensamentos nas tarefas, sem muito sucesso, quando Peter bateu na minha porta. Eu o evitei a manhã inteira, pois sabia bem o que ele falaria quando me visse, mas agora não tinha mais desculpas, então o deixei entrar. Ele chegou como quem não quer nada, sério, o que não é típico dele e se sentou em uma cadeira, me fitando com bastante atenção. 

__Como está indo?__ ele perguntou fazendo um gesto na direção dos papéis na minha mão.
__Mostrei os desenhos que Matt me deu ao Charlie, ele adorou, disse que são perfeitos e quer usar as ideias no comercial.
Ele pegou um dos desenhos da minha mão e analisou por um momento.
__É realmente muito bom, ele tem muito talento__ comentou distraidamente__ ele já fez algum curso?
__É um talento natural, assim como a música, ele aprendeu tudo sozinho__ respondi soltando os papéis na mesa.
__Hum__ ele assentiu com a cabeça, eu sabia que ele queria dizer alguma coisa, mas estava se segurando__ foi incrível aquilo que a Demi fez ontem não é? Não sei o que ela disse pro Matt, mas funcionou, nunca o tinha visto arrependido de nada.
__Verdade__ concordei, foi realmente incrível, ela tinha feito ele me pedir desculpas, ele nunca fazia isso, pelo menos não sinceramente, mas percebi que ontem ele pareceu realmente arrependido e isso porque o errado na história era eu. Perdi completamente a cabeça com ele e me senti um idiota depois, porém o estrago já estava feito... Mas ela conseguiu, ela concertou.
__Você fez um bom investimento contratando ela__ Peter disse__ ela é realmente incrível.
__Porque você não fala logo o que veio dizer e para de enrolar Peter?__ perguntei já sem paciência__ sabe que odeio quando faz isso, se tem algo a dizer, diga, sabemos que vai fazer mais cedo ou mais tarde não importa o que eu pense.
__Tudo bem__ ele entrelaçou os dedos e se inclinou para frente, se apoiando na mesa__ é sobre você e o Matt, eu não queria falar nada porque sei que vai aborrecê-lo, mas depois do que houve ontem, eu preciso dizer, como seu amigo.
__Diga o que tem que dizer Peter__ o incentivei, eu sabia que me irritaria com o que viria a seguir, mas também sabia que ele só falava porque se preocupava comigo.
__É sobre essas brigas de vocês dois. Vocês são pai e filho, não está certo que fiquem gritando um com o outro, lançando insultos e se evitando por dias.
__Você acha que eu gosto disso?
__Não acho nada, mas sei que você não faz nada para mudar isso__ ele disse__ Joe, desde que a Rachel morreu você está diferente, sei que já me ouviu dizer isso milhares de vezes, mas é que a cada dia me preocupo mais com você. Já são três anos, em alguns meses vai fazer quatro anos que ela se foi, mas às vezes parece que quem morreu foi você e não ela.
__Uma parte de mim morreu com ela.
__Isso__ ele apontou pra mim__ é isso. Você parou de viver cara, você mudou. O Joe alegre, o meu melhor amigo que gostava de piadas e de dar boas risadas desapareceu, você anda sempre triste por ai, não sorri, você não está feliz e isso afeta não só você, mas todos as sua volta, todos que se importam com você. É só olhar pro Matt, de onde você acha que vem essa rebeldia dele? Acha que é só saudade da mãe? É você Joe, as suas atitudes estão transformando ele num garoto diferente e logo vai afetar a Manuela também.

__Está querendo dizer que eu faço mal aos meus filhos, é isso?__ o encarei incrédulo.
__Me perdoe à sinceridade, mas é isso mesmo que estou dizendo__ concordou sem exitar__ você... Você deixou de viver cara. Eu sei que sente falta da Rachel, que a morte dela o entristece, mas ela morreu e você não... Você está vivo, tem que viver.
__Você acha que eu não tento?
__Acho que não__ ele negou descaradamente__ acho que você se acomodou e não faz o menor esforço pra mudar, que se afundou tanto na sua dor que se esqueceu de viver e agora parece mais um zumbi andando por ai do que uma pessoa. Você já parou pra pensar Joe? Nunca reparou nesses três anos o que vem acontecendo?
__Você não entende...
__Você sempre diz isso__ ele me interrompeu__ você tem razão, eu não entendo. Não espero um dia compreender o tamanho da sua dor, mas acho que isso não justifica tanta agonia. Joe, eu me importo com você, eu te amo, você é como um irmão pra mim, pode ficar com raiva de mim pelas coisas que eu disse, pode me odiar, me expulsar da sua sala, me xingar, o que quiser, mas é verdade. Você precisa acordar, precisa ao menos tentar... Se você ao menos tentasse.
__Tentasse o que?
__Ser feliz de novo__ ele murmurou__ você tem lindos filhos, uma casa incrível, um bom emprego, amigos. É jovem, se ao menos abrisse um pouco os olhos, talvez pudesse até encontrar um novo amor e...
__Não__ eu o interrompi imediatamente__ não... Ninguém pode substituí-la.
__Não quero que você a substitua__ Peter disse__ é isso que está errado, você não quer arrumar um novo amor porque acha que ninguém no mundo vai ser igual a ela, e está certo, não tem outra Rachel, não dá pra substituí-la, não é isso que você precisa. Você precisa encontrar outro alguém, alguém diferente, alguém que te alegre, que te fala sentir bem de novo.
__Eu não quero e não preciso de outra mulher Peter.
__Então não arrume uma__ ela deu de ombros__ se está melhor sem uma mulher, então não arrume outra, mas viva cara, abre os olhos, acorda pra vida. 

Fez-se um silêncio então, nenhum de nós dois disse nada. Eu estava com raiva, queria socar alguma coisa, queria discutir com ele e dizer que estava errado, mas ai é que estava... Eu sabia que ele estava certo, que tudo que ele disse era verdade e por isso fiquei em silencio, uma parte de mim sabendo que eu realmente precisava mudar, que eu devia voltar a viver, a ser feliz, mas a outra parte insistindo que eu nunca poderia, que agora que Rachel estava morta eu nunca encontraria a parte que faltava em mim.
Já tínhamos tido aquela conversa uma vez, e eu tentei me libertar daquela dor, tentei seguir em frente e voltar a viver, tentei me apaixonar de novo, achar alguém que me fizesse sorrir, mas de nada tinha adiantado, aquilo só fez a dor ser pior. Era como se eu estivesse sufocando durante todo o tempo, um peso constante no meu peito que eu me deixei acostumar a sentir, e quando tentei respirar, quando tentei me livrar daquilo não consegui, só doeu mais... Eu me esqueci como se fazia para respirar. Eu queria muito, de verdade, mas não conseguia lembrar como. 

__Eu sinto muito__ Peter sussurrou depois um longo tempo__ eu só quero o seu bem Joe.
__Eu sei disso__ respondi sem olhá-lo, senti meus olhos arderem mas não derramei uma lágrima, eu tinha me esquecido como se fazia isso também, chorar... Talvez por isso me sentisse tão vazio e sufocado ao mesmo tempo, porque não podia botar pra fora toda aquela dor.
Se eu ao menos pudesse fazê-lo entender, se algum deles conseguisse me entender, sentir o que eu sinto... Mas eles não podiam.
__Eu vou deixá-lo sozinho.
Eu nada disse enquanto ele se levantava e saía do escritório. Fiquei lá sentado olhando para o nada pelo que podiam ter sido segundos, minutos ou horas, até que Selena apareceu e me despertou novamente para o mundo.
__Vim em má hora?__ ela perguntou quando viu minha expressão.
__Não, está tudo bem__ me forcei a dar-lhe sorriso__ o que foi?
__Vamos ter uma festa aqui na JI daqui a três semanas__ ela disse__ para comemorar o aniversário da empresa.
__Sei disso, o que tem?
__Bem, temos muitos preparativos e você tem que aprovar algumas coisas__ ela explicou me estendendo uma pasta com muitas folhas e palavras que eu não tinha a menor vontade de ler naquele momento.
__Tenho que fazer isso agora?
__Bem, seria bom que fizesse o quanto antes, mas se está ocupado posso deixar para mais tarde, ou amanhã.
__Amanhã é perfeito, prometo que resolvo isso amanhã.
_Ok, e só pra lembrar, você vai precisar trazer uma acompanhante a festa__ ela sorriu de lado__ todos temos que ter acompanhante, principalmente você que é o dono e presidente da empresa. Precisa causar boa impressão. Eu posso achar alguém pra você, tenho muitas amigas e telefones de pessoas importantes que podem querer...

__Selena, não se preocupe com isso__ a interrompi__ eu arrumo uma acompanhante sozinho.
Eu sabia que se a deixasse cuidar disso, ia querer que minha acompanhante e eu tivéssemos algo a mais, era sempre assim, estavam todos sempre tentando me arrumar uma namorada. Se eu cuidasse disso sozinho poderia levar minha mãe, ou alguma pessoa que não passasse a noite toda dando em cima de mim descaradamente, era tudo que eu não precisava agora.
__Ok, você quem decide.
Depois disso, ela me deixou sozinho. Antes de Peter aparecer na minha sala eu já não conseguia trabalhar direito, depois que ele se foi então pareceu uma tarefa terrivelmente impossível, mas me obriguei a ficar no escritório o resto do dia. Quando fui para casa, Matthew estava trancado no quarto como sempre, Manuela já estava dormindo e Demi estava na cozinha conversando com Clarissa e Tânia.
Passei por elas com um simples boa noite e fui direto para o meu quarto. Joguei minhas coisas de qualquer jeito numa poltrona no quarto e tomei um banho demorado para espantar o mal estar do dia. Vesti uma calça de moletom para dormir e me joguei na cama, fechando os olhos e dormindo mais facilmente do que esperava.
Acordei no meio da noite com alguém me chamando e me cutucando. Abri os olhos confuso, e a primeira coisa que avistei foi à luz do despertador na cabeceira da cama que indicava ser duas e meia da madrugada, depois avistei Manuela parada ao lado da minha cama. Forcei-me a espantar o sono e manter os olhos abertos e sentei-me para ver o que ela queria.

__O que foi Manu?__ esfreguei os olhos para espantar o sono__ o que faz acordada? São duas e meia da madrugada.
__Tem um monstro no meu armário__ ela disse assustada.
__Manuela, monstros não existem.
__Mas eu vi, está no meu armário__ ela insistiu__ posso dormir com você?
Era só o que me faltava agora. Manuela vivia vendo monstros no quarto dela, dentro do armário, debaixo da cama, e não importava o que eu dissesse, nada a fazia acreditar que monstros não existiam e ela só voltava a dormir se fosse comigo do lado. O problema era que ela não dormia quieta, tinha um sono agitado e o resultado disso é que quem não dormia no fim das contas era eu. E eu tinha um dia cheio de trabalho no dia seguinte para ficar acordado o resto da noite assim.

__Vem cá Manu__ peguei ela no colo__ você já está bem grandinha para ter medo de monstros, essas coisas não existem.
Sai com ela do quarto e quando estava no corredor Demi apareceu, esfregando os olhos para espantar o sono.
__O que aconteceu?__ ela perguntou.
__Tem um monstro no meu armário__ foi Manuela quem respondeu__ não quero dormir sozinha.
__Ela quer dormir comigo__ expliquei__ mas não consigo dormir com ela do lado e eu tenho que acordar cedo amanhã.
Demi pensou no assunto por um instante, olhou na direção do quarto de Manuela e então sorriu.
__E se espantarmos o monstro?__ ela disse__ mandamos ele embora e você pode voltar a dormir.
Eu a olhei como quem pergunta o que ela estava fazendo, mas ela se limitou a pedir que eu a seguisse. Manuela não queria me largar de jeito nenhum, então tive de carregá-la até o quarto para ver o que Demi pretendia fazer. Ela ascendeu à luz e caminhou até o armário, abrindo as portas e mexendo em todos os cantos como quem procura alguma coisa, Manuela só observou desconfiada.
__Viu só? Não tem monstro nenhum__ Demi disse sorrindo__ acho que ele já foi embora, está tudo bem.
__Ele pode voltar__ Manuela disse.
__Não se agente bloquear o caminho dele.
Demi fechou a porta do armário e pegou uma cadeira que tinha no canto do quarto, a colocando na frente da porta do armário, bloqueando a maçaneta e impedindo que a mesma fosse aberta.
__Viu? Agora ele não pode mais passar, está preso.
Manuela encarou a porta por um tempo, ainda parecia indecisa se acreditava ou não que aquilo pararia o tal monstro.
__Se eu cantar a sua música você volta a dormir?__ Demi perguntou.
Manuela assentiu balançando a cabeça e depois a deitando em meu ombro. Demi se aproximou de mansinho, e ainda sorrindo começou a acariciar o cabelo dela. 

__Brilha lindo sol, brilha estrelinha, brilha linda flor, que amanhã é um novo dia__ ela começou a cantar__ voa passarinho, voa beija-flor, voa pelo céu, espalhando amor. Corre riozinho, corre para o mar, leva os peixinhos para passear. Dança bailarina, dança sem parar, com seus sapatinhos, sempre a encantar. Sorria, sorria princesinha, sorria que amanhã é um novo dia, cheio de amor, cheio de alegria. Sorria amanhã, amanhã é um novo dia.
Não consegui desviar os olhos de seu rosto enquanto ela cantava. Desde que Rachel morrera eu não ouvia aquela música, me incomodava ouvir qualquer pessoa cantando, porque de alguma forma parecia errado sem a Rachel. Mas algo naquela cena me fez sorrir, enquanto via Manuela adormecer no meu colo, com o dedo na boca, e Demi cantando para ela com um sorriso doce no rosto, me pareceu certo. Ela tinha uma voz bonita, e cantava com carinho, com doçura, ela não estava ali apenas pelo dinheiro que eu ofereci como salário, mas também porque gostava da minha filha, de um jeito que muitas pessoas mais próximas que ela não gostavam. E depois de quase quatro anos, eu gostei de ouvir aquela música de novo. 

__Ela já dormiu__ Demi sussurrou despertando-me de meus pensamentos, não tinha percebido que a música tinha terminado e que eu tinha ficado parado ali olhando para ela, com os pensamentos distantes.
Deitei Manuela em sua cama e a cobri com cuidado para não acordá-la, depois eu e Demi apagamos a luz e saímos do quarto.
__Como faz isso?__ perguntei quando estávamos sozinhos no corredor__ toda vez que ela acorda dizendo que viu um monstro, não importa o que eu faça, ela não volta a dormir assim facilmente, só se aquieta se dormir comigo.
__Ela tem cinco anos, é uma criança__ deu de ombros__ dizer que monstros não existem não vai fazer o medo ir embora, precisa fazer ela se sentir segura.
__Uau, tem certeza que nunca teve filhos?
__Não tive essa sorte__ ela riu__ mas adoro crianças mesmo assim. Não é difícil, depois que aprende a lidar com elas.
__Sabe, eu acho que não te agradeci por ter me ajudado com o Matt ontem.
__Não foi nada.
__Foi importante pra mim. Eu não gosto de brigar com ele e se não fosse por você ele nem estaria olhando na minha cara agora, não sei o que foi que você fez, mas obrigado mesmo assim.
__Só fiz o meu trabalho__ ela sorriu timidamente pra mim, eu não sabia dizer o que era, mas tinha algo de diferente nela, algo de incomum. Parecia que eu tinha mesmo acertado ao contratá-la como babá.
__Boa noite Demi.
__Boa noite.
Ela voltou pro seu quarto e eu ainda fiquei um tempinho parado ali no corredor, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo, até que o sono deu as caras de novo e voltei para o meu quarto. 


Fim do Capítulo



It's Alright, It's OK
I'm so much better without you
I wont be sorry
it's alright, It's Ok
So don't you bother what I do ♫♪

Manuela não quis ficar em casa aquela tarde, então Arthur nos levou para dar um passeio pela cidade. Passamos numa loja de brinquedos e fui obrigada a comprar uma nova barbie que Manuela ainda não tinha em sua tão adorada coleção, ela saiu de lá completamente alegre e saltitando. Tomamos um sorvete no caminho e dividimos um sanduíche e depois Manuela quis passear no parque onde nos conhecemos. O dia estava absolutamente lindo e sorri para o céu azul e o sol brilhante. Aproveitei o momento para ligar para minha mãe e conversar um pouco com ela, nunca tinha passado muito tempo longe dela assim e sentia sua falta.
A minha bela manhã foi por água abaixo quando eu avistei do outro lado do parque, ninguém menos que o meu ex noivo Alex, o idiota que me abandonou no dia do casamento. Estava escorada no carro conversando com Arthur quando o vi lá, todo lindo, com seus cabelos negros e sorriso sexy, e meu sangue ferveu, o que aquele palhaço fazia justo ali? Eu queria ter ido até lá e dado um belo tapa na cara dele, e dito umas boas verdades na cara dele, mas ao invés disso me peguei dando a volta no carro e abaixando, tentando me esconder para que ele não me visse.

__Demi, o que você está fazendo?__ Arthur me olhou como se eu fosse alguma espécie de maluca.
__Ta vendo o cara super lindo, de sorriso sexy, corpo musculoso, blusa vermelha e ar superior ali do outro lado do parque?
__Hum, acho que sim__ ele estreitou os olhos por cima do carro para tentar ver melhor__ o que tem ele?
__É meu ex noivo__ eu fiz careta enquanto escorava a cabeça na porta do carro, ali abaixada feito uma pateta.
__Ok, e você está se escondendo... Por quê?__ me encarou curioso.
__Faz quase dois anos que ele me abandonou, ele está ali todo lindo e presunçoso e eu aqui, falida, trabalhando de babá para um ricaço, sem namorado e sem dignidade__ bufei__ não quero que ele me veja assim. Eu devia estar linda e maravilhosa quando ele me encontrasse, para eu esfregar na cara dele como estou melhor do que nunca depois que ele se foi.
__Não é o que está parecendo agora__ ele comentou__ você está linda Demi, não precisa se esconder.
__Oh, você não sabe de nada__ me levantei um pouquinho para espiar por cima do carro.
Alex estava lá sorrindo, conversando com um homem que eu não conhecia e ele parecia tão feliz, aquilo me deu raiva. Será que ele não sentira nenhum pouco minha falta? Não se arrependeu nem por um minuto de ter me deixado?
__Demi, o que está fazendo?
Tomei um susto e me abaixei de novo quando Manuela apareceu do meu lado.
__Nada, não estou fazendo nada__ respirei fundo para acalmar o coração__ acho que já podemos ir embora né?
Levantei-me apressada, ajeitando a roupa que amassara um pouco e abri a porta do carro para que Manuela entrasse.
__Demi?

Meu coração parou de bater quando ouvi meu nome ser chamado, reconheci a voz de imediato e me odiei por isso, depois de quase dois anos não deveria soar tão familiar para mim. Praguejei baixo, fazendo careta e quando me virei lá estava ele, vindo em minha direção, com toda sua beleza e tranquilidade.

__Demi, é você mesma?__ ele perguntou quando parou a minha frente.
__Acho que sim__ dei um sorriso amarelo.
__Meu Deus, quanto tempo.
__Jura? Nem percebi__ dei de ombros como quem não se importa.
__Não esperava te encontrar assim, ainda mais aqui.
__Eu esperava não te ver nunca mais, mas parece que nem sempre conseguimos o que queremos não é mesmo?
__Você ainda está zangada comigo__ ele comentou.
__Imagina__ eu dei uma risada falsa__ não me importo o bastante para sentir raiva.
Como era mentira, como eu queria socá-lo naquele momento... Ou me jogar nos braços dele, não tinha certeza. Eu me odeio.
__Eu... Eu pensei em te procurar nesse tempo__ Alex disse me fitando profundamente, desviei os olhos dos dele para aquietar minha pulsação, minha cabeça ia explodir__ eu queria pedir desculpas por ter te abandonado daquele jeito, por não ter te dado nenhuma satisfação, não foi certo... Depois de tudo que passamos juntos.
__Me poupe das suas desculpas Alex.
__É sério Demi, eu...
__Você o que? Está arrependido? Não queria ter feito aquilo?__ cruzei os braços e bati o pé no chão irritada.
__Não, eu não me arrependo do que fiz__ ai, essa doeu__ acho que foi a decisão certa não nos casarmos, eu não estava pronto pra isso, não daria certo, o que me arrependo é do modo como fiz as coisas, não queria te magoar sabe? Você é minha amiga e...
__Era... Era sua amiga__ o corrigi e segurei a mão de Manuela que estava do meu lado__ e você tem razão sabe? Foi o melhor, eu estou muito melhor sem você, comecei de novo e estou muito feliz.
__É bom saber__ ele sorriu e fitou Manuela__ sua filha?
__Nos separamos a menos de dois anos, como posso ter um filha de cinco?__ resmunguei irritada.
__Oh, certo__ ele pareceu envergonhado__ então ainda trabalha como babá? Você não mudou muito.
Aquilo aumentou a minha ira, já me decidi, eu não queria agarrá-lo... Socá-lo, definitivamente socá-lo até sangrar. Não queria que ele pensasse que enquanto ele crescera na vida, eu fiquei pelos cantos chorando por causa dele e continuei a mesma pobre garota de sempre. Era verdade, mas ele não precisava saber.
__Não, eu não sou babá dela__ neguei irritada.
__Quem é ela então?
__É... Hum... Filha do meu namorado__ disse antes que pudesse conter a língua__ estou namorando agora sabe? Manuela é filha dele, e esse aqui é Arthur, nosso motorista... Meu namorado é rico.
__Oh, que legal__ ele sorriu__ eu também estou namorando, ela é incrível. E estou atrás de um emprego aqui na cidade, eu fiz uma boa grana nesses últimos tempos e agora vou me estabilizar por aqui, sabe... Vida nova.
__Que bom pra você__ por fora eu sorria, por dentro fervia de raiva__ olha, por mais que eu esteja interessada em saber mais da sua vida__ disse debochada e descaradamente__ meu namorado está me esperando, vamos almoçar juntos, então... Tchau Alex.
__Espero que nos vejamos de novo por ai.
__Eu espero que não.
E entrei no carro, batendo a porta na cara dele. Meu Deus, como ele era cara de pau. Depois de tudo que ele fez, depois de tanto tempo ainda tinha coragem de vir falar comigo e dizer: “espero que nos vejamos de novo por ai”. Espero que ele seja atropelado por um caminhão, isso sim.
__O que foi aquilo Demi?__ Arthur perguntou.
__Não me julgue, eu me desesperei__ fiz careta__ ele não precisa saber que eu menti, ninguém precisa saber de nada, se eu tiver um pouco de sorte nunca mais verei aquele canalha na minha vida.
Foi quando me lembrei que nunca tive muita sorte na minha vida.
__Você ainda o ama?
__Parece que eu o amo?__ desafiei irritada.
__Parece__ ele respondeu sinceramente.
__Mas não o amo__ quase gritei, mas aí lembrei que Manuela estava logo atrás no carro e controlei a língua.
__Tudo bem, se você está dizendo que não o ama eu acredito.

Mas eu sabia que ele só disse aquilo para não me irritar. Eu o amava, ou achava que amava, mas isso fora quase dois anos atrás antes de ele quebrar meu coração e me deixar sozinha para tentar juntar os pedaços. Até agora não conseguira juntar todos. Só não queria ter deixado que o abandono dele afetasse tanto a minha vida, queria ter sido mais forte, queria não ter ficado com tantas marcas, pois ele estava muito bem, e toda dor quem sentiu fui eu... Mas agora era tarde demais.
__Você está bem?__ Arthur perguntou.
__Estou, só... Nos leve pra casa. 


Logo mais posto mais dois ;D

Agradecimento!

Hey pessoal,Adorando ter seguidoras novas obrigado mesmo,Espero que gostem dessa fic.

Beijinhos hoje posto dois duplos! 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Six/Seven


Six 



You used to captivate me by your resonating light
Now I'm bound by the life you've left behind
Your face it haunts my once pleasant dreams
Your voice it chased away all the sanity in me ♫♪


Acordei sobressaltado, a respiração e o coração acelerado. O sonho tinha parecido tão real, que por um momento quando olhei pro lado quase esperei vê-la ali deitada, linda como um anjo, quase pude ouvir sua voz me desejando um bom dia e o lindo sorriso que ela sempre dava quando me via, não importava a hora. Mas tinha sido apenas um sonho e nada mais, deixei meu corpo tombar de novo no colchão e fiquei ali encarando o teto do quarto enquanto meu coração se acalmava. Olhei no relógio na cabeceira da cama, ainda eram cinco da manhã, mais uma noite mal dormida, não me lembrava a ultima vez que tivera uma noite de sono descente, podia ter sido ontem ou séculos atrás, não fazia diferença.
Sabia que não conseguiria mais dormir, então me levantei e fui tomar um banho, tirar o suor do corpo. Fiquei mais de dez minutos debaixo do chuveiro, deixando a água fria correr por meu corpo e levar embora aquela sensação ruim. Como eu pretendia trabalhar para a nova campanha da JI em casa hoje, vesti apenas uma calça simples. Aproveitei que todos ainda estavam dormindo e sem fazer barulho fui até o quarto ao lado, entrando e encostando a porta.
Ontem eu perdera a compostura na frente de Demi quando a vi dentro desse quarto, o quarto que eu costumava dividir com Rachel. Não consegui me livrar de suas coisas depois que ela partiu, ao invés disso mudei para o quarto ao lado, deixei tudo aqui e tranquei a porta, como se isso pudesse manter a dor aqui dentro, bem escondida. Às vezes eu entrava aqui, como agora e ficava sentado olhando pra tudo, me lembrando, todos diziam que fazia mal, que eu devia me desapegar, deixar pra lá, mas nenhum deles tinha passado pelo que eu passei, nenhum deles sentiu a minha dor e eles não conseguiam entender como era difícil. Ela fazia mais falta do que eu era capaz de expressar e tinha um buraco dentro de mim no lugar que ela ocupara um dia, um buraco que eu não acreditava que dava para preencher novamente. Eu só precisava fechar os olhos para lembrar e ouvir o nome dela para me sentir completamente vazio.

__Papai?__ desviei os olhos do porta retrato com a foto do nosso casamento e olhei para a porta.
__O que está fazendo acordada há essa hora Manu?
__Eu tive um pesadelo__ ela sussurrou esfregando os olhos.
__Vem cá__ chamei estendendo os braços.

Ela veio até mim e eu a peguei no colo. Manuela deitou a cabeça no meu ombro e ficou olhando para foto na cômoda com atenção. Eu a abracei, para aliviar o vazio dentro de mim, ela era o motivo de eu acordar todos os dias, ela e Matthew. Apesar de eu não ser o melhor pai do mundo, de fazer um monte de coisas erradas, ela sempre me perdoava, sempre sorria ao me ver, me abraçava apertado e dizia que me amava... Fazia os dias valerem à pena. 

__Sua mãe ficaria tão orgulhosa se pudesse ver a menina maravilhosa que você é__ sussurrei enquanto a embalava lentamente.
__Onde a mamãe está agora?__ ela perguntou.
__Está no céu, junto com as estrelas__ dei um beijo nos seus cabelos__ está cuidando de nós lá de cima.
__Ela vai voltar algum dia?
__Infelizmente não princesa, somos só nós agora.
Ela ficou quietinha no meu colo enquanto eu continuava a acalentá-la, e depois de um tempinho percebi que ela acabara dormindo. Com cuidado levei-a de volta para o seu quarto e a coloquei na cama, a cobrindo. Ainda fiquei um tempinho a observando a dormir, e quando saí encontrei Demi no corredor.
__Manuela já acordou?__ ela perguntou__ precisa de alguma coisa?
__Ela teve um pesadelo, mas já voltou a dormir, não se preocupe. Ainda tem uma hora antes de ela precisar levantar pra ir à escola.
__Tudo bem, vou ficar de olho. 

Depois disso fui pro meu escritório trabalhar e fiquei por lá a manhã inteira. Ouvi quando Manuela e Matthew saíram para ir à escola e ouvi também quando voltaram muitas horas depois, mas continuei trabalhando. Era mais ou menos duas da tarde quando alguém bateu na porta, pensei que fosse Clarissa, que estava sempre vindo até mim para perguntar se eu precisava de alguma coisa, mas era Matthew, ele tinha um copo de refrigerante na mão e a mesma expressão de tédio de sempre.

__O que foi? Precisa de alguma coisa?
__A tia Sel e o tio Peter estão ai na sala querendo falar com o senhor__ ele avisou.
__Tudo bem, estou indo.
Sai da sala e o deixei lá sozinho enquanto ia até a sala ver o que Peter e Selena queriam comigo.
__O que fazem aqui?
__Boa tarde pra você também__ Peter zombou.
__Boa tarde__ murmurei__ o que fazem aqui?
__Vim trazer uns papéis pra você assinar, é urgente e como não vai pra JI hoje eu tive que trazer aqui__ Selena explicou.
__Porque não ligou?
__Que diferença faz?__ ela revirou os olhos__ pare de reclamar e assine logo.
__Eu só vim pelo passeio__ Peter deu de ombros se jogando no sofá. 

Ignorei-o enquanto Selena me explicava do que se tratavam os papéis e mostrava onde eu teria que assinar. Era bastante coisa, e já estava com a mão cansada quando cheguei a ultima folha, foi quando ouvi um barulho estranho vindo do meu escritório e então gritos. Levantei-me correndo para ir ver o que era e encontrei Matthew, Manuela e Demi no escritório. 

__O que aconteceu aqui?
Antes que qualquer um deles pudesse se explicar eu entendi. Os papéis que passei toda manhã estudando, tentando ter ideias para nova campanha, estavam espalhados pela minha mesa, como eu deixara antes de sair, mas agora estava tudo coberto com o refrigerante que Matt tomava anteriormente.
__O que...
__Foi um acidente__ Matthew disse de olhos arregalados__ eu sinto muito.
__Você derramou refrigerante no meu trabalho? Como... __ me aproximei da mesa, pegando os papéis na mão, estava tudo arruinado, manchado ou se esfarelando por conta do refrigerante__ eu passei a manhã inteira trabalhando nisso.
__Foi um acidente pai, a Manuela chegou correndo e esbarrou em mim, eu não...
__Quantas vezes eu já avisei para não entrar no meu escritório? Quantas vezes eu disse pra não comer ou beber nada aqui? É meu local de trabalho, não uma área de lazer, pra isso tem os outros cômodos da casa, que droga Matthew.
__Eu não fiz de propósito.

__Nunca é de propósito, você é um irresponsável, primeiro aquilo com a sua irmã e agora isso, quando é que você vai crescer e começar a agir como um adulto em? Quando vai criar responsabilidade?__ não sei bem como aconteceu, mas de repente estávamos gritando um com o outro, eu perdi completamente a cabeça. Demi pegou Manuela no colo, que nos olhava de olhos arregalados, assustada, ela tentou dizer alguma coisa, defender o Matt, mas eu não queria ouvir.
__Isso, jogue a culpa em mim como você sempre faz__ Matt revidou__ culpe todo mundo pelos seus malditos problemas, ou então vamos fechar os olhos e fingir que não acontece. É assim que você lida com tudo não é senhor Jonas? Você nunca escuta, você sempre é o certo, você sempre está acima de tudo, mas tenho uma novidade pra você, o irresponsável aqui não sou eu.
__Olha como fala comigo garoto, eu sou seu pai.

__É essa a sua resposta pra tudo não é mesmo? Eu sou seu pai__ ele resmungou em deboche__ se é meu pai, devia agir como tal então. Você é um idiota, alguém já lhe disse isso senhor Jonas? Aposto que não, compra o amor de todo mundo com seu maldito dinheiro não é? Eu não estraguei seu trabalho de propósito, mas agora acho que foi bem feito, quem sabe assim não abre a droga dos olhos e começa a ver que não é assim tão perfeito?
E ele saiu correndo da sala, empurrando Demi do caminho e também Peter e Selena que estavam na porta ouvindo tudo. Todos ficaram me encarando por um tempo, sem sabe o que dizer, eu estava tão nervoso que podia socar alguma coisa, mas respirei fundo para me controlar e conforme os segundos iam passando eu fui percebendo a besteira que eu havia acabado de fazer.

__Hum... Eu... Eu vou falar com ele__ Peter disse e saiu do escritório, indo atrás de Matthew.
__Você está bem?__ Selena perguntou.
__Não, não estou__ resmunguei irritado, jogando os papéis arruinados em cima da mesa no chão.
__Papai__ Manuela se esticou no colo de Demi em minha direção, querendo vir pro meu colo.
__Agora não Manuela, eu estou nervoso__ respirei fundo__ Demi, leva ela daqui por favor?
Ela concordou sem dizer uma palavra e se retirou do escritório levando Manuela. Deixei-me cair um minuto na cadeira.
__Eu sou tão idiota__ disse passando as mãos nervosamente pelo cabelo, se usasse um pouco mais de força poderia arrancá-los de tão nervoso que estava__ eu não sei o que estou fazendo Selena, eu sou um péssimo pai, é isso... Eu não presto.
__Você só estava irritado, passou o dia inteiro trabalhando nisso, tem razão de ficar nervoso, Matt vai entender.
__Não, ele não vai entender, não é a primeira vez que isso acontece, meu filho me odeia e com razão.
__Joe...
__Eu não consigo fazer isso Sel__ suspirei__ não sirvo pra ser pai, não sem ela.
__Não diga besteira__ ela revirou os olhos__ todo mundo erra, pare de choramingar e vá lá pedir desculpas pro seu filho.
__Eu não...
__Não estou te dando escolha__ ela me encarou séria__ foi um acidente, já passou. Ele estragou os papéis, você ficou nervoso, brigaram, agora peça desculpa e siga em frente, anda logo. 

Concordei com um aceno de cabeça e fui. Não era a primeira vez que eu e Matthew brigávamos desse jeito, acontecia com muita freqüência, ele estava sempre me provocando e eu perdia a cabeça com facilidade, não importava o quanto eu tentasse ficar calmo. Eu tentava ser um bom pai, tentava ser compreensivo, mas nunca soube como lidar com ele, Rachel era que sempre resolvia tudo, ela tinha o dom de fazer tudo ficar bem com poucas palavras e um doce sorriso, ela me fazia ser melhor, mas agora ela estava morta e eu completamente perdido.
Subi as escadas as pressas, encontrei Demi e Clarissa saindo do quarto de Manuela e fechando a porta, as duas ficaram paradas ali no corredor me olhando, enquanto escutávamos as vozes de Peter e Matthew vindas do outro quarto.

__Matt, ele não fez por mal__ Peter estava dizendo__ só ficou nervoso, você sabe como ele é quando se trata do trabalho.
__Sei bem como é__ Matt respondeu alto, praticamente gritando__ o trabalho é super importante pra ele, mais que qualquer coisa, mais até que os próprios filhos. Não importa o que aconteça comigo contanto que ninguém atrapalhe o precioso trabalho dele.
__Você sabe que não é assim Matt, seu pai te ama.
__Às vezes não parece. Ele só tem tempo pro maldito trabalho, trabalho, trabalho, é isso o tempo todo. 

__É a forma dele de se manter ocupado Matt, de esquecer dos problemas, de seguir em frente, se manter focado em alguma coisa importante faz ele se sentir melhor, você devia tentar entender... Ele perdeu a esposa, sente falta dela.
Demi e Clarissa se entreolharam com vergonha, mas ninguém ali se sentia pior do que eu. O pior era que eu sabia que Matthew estava certo, eu me preocupava demais com o meu trabalho, mas era o que Peter disse, manter minha mente ocupada com o trabalho me impedia de pensar nela, logo era mais fácil suportar o passar dos dias. No começo eu tentei, tentei continuar a vida normalmente, tentei não mudar, mas foi impossível.
A verdade é que eu olho pros meus filhos e vejo ela, penso nela, penso que ela não está mais comigo, lembro que era ela que me ensinava a cuidar deles e então acabo me afastando. Eu achei que guardar minha dor só pra mim seria o melhor pra todo mundo, mas acho que estava errado, o caso é que me acostumei a ser assim, segui por aquele caminho escuro e agora não conseguia encontrar o caminho de volta pra luz. 

__Bom, tenho uma novidade pra ele__ Matt rebateu zangado__ ele não foi o único que perdeu alguém que amava. Ele perdeu a esposa e eu perdi a minha mãe, eu sinto falta dela também e quer saber de uma coisa? Eu preferia que ele tivesse morrido e não ela.
Aquelas palavras foram como um tapa na cara, ou um soco no estômago. Não achei que palavras pudessem machucar tanto. 

__Vá embora por favor__ a porta do quarto se abriu e Matt e Peter me viram ali parado.
Nos encaramos em silencio por um momento, eu pensei em dizer alguma coisa, pedir desculpas talvez por ser um idiota, mas de que ia adiantar? O meu filho me odiava e eu acho que merecia isso. Abaixei a cabeça, lhe dei as costas e desci novamente as escadas voltando até a sala onde Selena esperava. Ouvi passos atrás de mim e logo Peter e Demi estavam também na sala.
__Você ouviu o que ele disse?__ Peter perguntou.
__Que ele queria que eu estivesse morto? É eu ouvi sim.
__Sabe que ele não falou sério não é mesmo? Ele te ama.
__Ele falou sério sim Peter__ eu discordei tristemente__ meu filho me odeia, porque sou um péssimo pai, eu sei que é verdade.
__Joe...
__Esqueça ok?__ o interrompi__ só... Deixa pra lá.
__Eu posso tentar falar com ele__ Demi disse de repente, falando pela primeira vez__ talvez eu possa fazê-lo se acalmar.
__Não vai adiantar de nada.
__Deixa ela tentar__ Peter insistiu__ quem sabe?

Eu apenas dei de ombros, se Peter não tinha conseguido nada, ela também não conseguiria, ela não conhecia Matt. Mas ela foi assim mesmo, pediu licença e voltou a subir as escadas, eu apenas me sentei no sofá e encarei as paredes. Eu queria que as coisas fossem diferentes, mas como podia dar ao meu filho o que ele queria? Como eu poderia ajudá-lo, tentar fazê-lo sentir-se melhor quando eu mesmo não me sentia bem, quando eu mesmo me sentia um lixo? Eu estava tão morto por dentro, tão vazio e não via como podia fazer alguém feliz se me sentia tão infeliz. Eu gostaria que fosse diferente, mas não era.
Fim do Capítulo



These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time cannot erase ♫♪


Aconteceu tudo muito depressa. Num minuto eu brincava com Manuela no quintal, no segundo seguinte ela saiu correndo e rindo, entrou no escritório do pai, já que a porta estava aberta e esbarrou no irmão que estava inclinado sobre a mesa observando distraidamente alguma coisa. O refrigerante que ele tinha em mãos caiu sobre os documentos espalhados na mesa e ai tudo virou caos, Matthew arregalou os olhos assustado e então gritou com Manuela, culpando-a pelo incidente, ela correu pra junto de mim assustada e então Joe apareceu no escritório. A discussão entre ele e Matthew foi das feias, eu ainda tentei ajudar dizendo alguma coisa, mas eles estavam ocupados demais se ofendendo para me ouvir, então levei Manuela embora.
Clarissa me acompanhou enquanto eu levava Manuela para o quarto dela e a punha para brincar. Ela não demorou a esquecer do ocorrido e eu e Clarissa ficamos quietas um minuto no quarto, esperando para ver se a confusão passava, afinal aquela briga não era da nossa conta.

__Essa briga foi das feias__ comentei distraidamente.
__Isso acontece muito por aqui__ Clarissa disse__ Joe e Matthew estão sempre brigando.
__Então essa confusão é frequente?
__Bem, o Matthew gosta de provocar o pai, e o senhor Jonas perde a paciência muito fácil__ ela explicou__ escuta Demi, você é nova por aqui, então não sabe como as coisas funcionam. Eu não devia dizer nada, pois o senhor Jonas pode não gostar, mas se você vai trabalhar por aqui é bom que esteja ciente das coisas.
__Do que está falando?__ perguntei curiosa.
__O senhor Jonas mudou muito depois que a esposa morreu, eu trabalho aqui há muito tempo e sei do que estou falando. Ele era um homem alegre, é bem verdade que nunca foi muito bom com crianças, mas eles eram muito unidos.
__E oque aconteceu então?

__Quando a senhorita Rachel descobriu sobre o câncer tudo mudou. Foi difícil pra ele vê-la definhar daquele jeito e quando morreu ele virou um homem triste, foi como se um pedaço dele tivesse morrido junto, eles eram como uma coisa só, dava gosto de ver. O caso é que pra espantar a tristeza e não pensar nela, ele passa a maior parte do tempo trabalhando e não fala com ninguém sobre como se sente, embora esteja bem evidente. Ele se afastou do filho, não consegue conversar com ele e o menino vive aprontando para ver se consegue chamar a atenção do pai e é assim que acaba__ ela apontou pra porta__ estão sempre brigando.

__Que coisa horrível.
__O Peter e a Selena, e até a mãe dele estão sempre tentando ajudá-lo, mas ninguém consegue.

Era triste saber disso, eu sofri quando o homem que eu amava me abandonou, imaginava como seria ver o amor da minha vida definhar até a morte, não era algo fácil de superar. Não era nada agradável ver pai e filho brigando desse jeito, o que eles precisavam era conversar, se entender, ajudar um ao outro a superar ao invés de se tratarem com gritos, mas eu não era ninguém para me intrometer nesse assunto, eu só estava ali para cuidar da Manuela. Eu tinha meus próprios problemas para cuidar.
O caso é que, quando deixamos Manuela brincando no quarto e resolvemos sair para ver como estavam às coisas, encontramos Joe no corredor e ouvimos Peter conversando com Matthew no quarto. Desviei os olhos do rosto de Joe, ele parecia perdido enquanto ouvia os insultos do filho, mas a pior parte foi quando ouvimos ele dizer: “Eu preferia que ele tivesse morrido e não ela.”
Eu prometi a mim mesma que não ia me intrometer nesses assuntos pessoais, era coisa de família e eu era uma intrusa, mas tive vontade de ajudar os dois a se resolverem e me ofereci para conversar com Matthew. Estavam todos esperando na sala para saber o que ia acontecer e eu parada na porta do quarto dele, criando coragem para entrar e pensando no que eu poderia dizer para melhorar a situação. Respirei fundo e bati na porta.

__Vai embora, não quero falar com ninguém__ ele resmungou de lá de dentro.
Virei à maçaneta mesmo assim, a porta estava aberta, então entrei antes que me arrependesse.
__Eu disse para ir embora__ ele reclamou quando me viu__ o que você quer?
__Só quero falar com você um minto__ pedi encostando a porta e me aproximando dele, que estava sentado na cama.
__Não tenho nada pra falar com você, sai do meu quarto. 

O quarto de Matt não era bem o que eu esperava de um adolescente como ele, assim meio rebelde. Era um quarto organizado, uma das paredes era toda preta e nessa havia muitos desenhos colados, desenhos que ele mesmo devia ter feito, pois havia uma mesa especial com muitos lápis e material de desenho no canto. E eram desenhos muito bons. As outras paredes eram azuis, havia uma escrivaninha no canto, com um computador, a cama era de casal, bem espaçosa, e havia também um violão em um canto. Tinha uma prateleira com livros e também outra com muitos Cds diferentes... Ele devia ter o mesmo gosto para música que a mãe.

__Escuta Matthew, eu sei que não é da minha conta...
__Está certa, não é da sua conta__ ele me lançou um olhar feio, tentando me intimidar.
__Mas... __ continuei a falar mesmo assim__ sei pai não queria te ofender ou te magoar, ele só ficou um pouco nervoso.
__Você não sabe de nada, chegou aqui agora, não conhece ele__ rebateu irritado__ é sempre a mesma coisa, algo dá errado e ele desconta a raiva dele em mim, eu sou sempre o errado. Eu sei que sou só um estorvo na vida dele, ele só me aturava antes por que a mamãe estava viva, e agora é por pura obrigação.
__Isso não é verdade, ele ama você.
__Como você pode saber disso?__ me desafiou.
Ele realmente estava decidido a não mudar de atitude, mas eu ainda não ia desistir.
__Seu pai ficou muito magoado com o que você disse__ comentei o fitando com atenção__ sobre querer que ele estivesse morto.
__Não falei realmente sério__ ele murmurou com um pouco menos de grosseria__ é que concerteza com a mamãe as coisas seriam diferentes.
__Ele não faz por mal, só sente falta dela.
__Eu sinto também, ela era minha mãe__ me lembrou__ é só que ele... Ele parece que morreu junto com ela. Às vezes fica horas trancado no antigo quarto deles com as coisas dela, ele não conversa mais comigo, não tem tempo pra Manu, parece mais um zumbi do que uma pessoa normal. Ele não age como meu pai e sim como meu dono, quer que tudo seja do jeito dele, ninguém pode errar, ele não chora, ele não fala e quer que todos sejam iguais a ele.
__É o jeito dele de lidar com a dor.
__É o que todo mundo fica me dizendo, mas não quer dizer que está certo... Estou cansado disso. 

__Matthew__ me aproximei um pouco mais, falando com suavidade__ você é ainda jovem, nunca esteve apaixonado, por isso não consegue entender como é doloroso perder alguém assim. Sei que você também sofre por ter perdido sua mãe, mas são coisas diferentes, são situações diferentes... Você não entende.
__E você por acaso entende? Como você pode querer me dar um sermão sobre isso? Você não sabe de nada, não passou pelo mesmo que nós, não nos conhece e não tem direito algum de querer vir me dizer como meu pai se sente ou como eu devo me sentir__ ele gritou zangado__ não pode vir até aqui e me dar um sermão, você não é nada minha, não é minha mãe e muito menos minha amiga.
Suspirei, ele de certa forma estava certo, eu não era ninguém para me meter.
__Você tem razão, eu não sou ninguém, só uma babá. Não sou da família, e nem sua amiga, mas poderia ser se você quisesse. Eu não conheço você e você não me conhece, mas isso pode mudar, pode contar comigo se precisar.
__Não preciso da sua amizade, não preciso de ninguém.
__Todo mundo precisa de alguém.
__Não eu__ rebateu rapidamente.
__Sei que está zangado com o seu pai, mas a culpa não é só dele.
__Está querendo dizer que eu tenho culpa?__ ele me encarou incrédulo.
__É fácil criticá-lo quando está nervoso, mas talvez as coisas fossem diferentes se ao invés de desafiá-lo e ficar esfregando seus erros na cara dele, você tentasse ajudá-lo a ser um pai melhor, o pai que você gostaria que ele fosse. Você diz que ele não te ouve, mas alguma vez já tentou conversar educadamente com ele? Já se sentou e perguntou como ele se sentia e disse a ele o que você estava sentindo? Alguma vez tentou entender o lado dele e não só o seu? E não falo só de você, vale pros dois... Se fossem menos cabeça dura, talvez não precisassem brigar o tempo todo.
Ele ficou calado, pela primeira vez sem saber o que me responder.

__Mas, eu sou apenas uma empregada__ ergui as mãos como quem se desculpa__ sou só uma simples babá. Não estou aqui pra te dizer o que pensar ou fazer, ou para te dar sermões, porque sei que isso não ajuda em nada, só aumenta a raiva. Mas se precisar de uma amiga algum dia, saiba que pode contar comigo... Não tem que gostar de mim, mas talvez devesse pensar um pouco no que eu disse.
Matthew ficou calado e abaixou a cabeça parecendo envergonhado, mas eu não achava que ele fosse dar o braço a torcer e admitir que eu estava certa. De uma forma ou de outra eu era só mais uma empregada, mas sinceramente esperava ter ajudado em alguma coisa. Eu podia não ter salvação, mas podia tentar ajudar os outros. Quando cheguei à sala, estavam todos calados, um clima estranho no ar e os olhos vieram todos pra mim. 

__Falou com ele?__ foi Peter quem perguntou.
__Falei sim, ele está um pouco mais calmo, mas... Acho que ele precisa de um tempo, vai superar.
__Sabia que essa conversa não ia adiantar de nada__ Joe suspirou e se esticou pra pegar uns papéis na mesa__ aqui Selena, já assinei todos os papéis.
__Obrigada__ ela pegou os papéis e guardou em uma pasta e então se virou pra mim__ nós não fomos apresentadas ainda, eu sou Selena Gomez, amiga do Joe, e secretária também.
__É um prazer__ apertei sua mão__ sou Demi Lovato, babá da Manuela.
Ela sorriu pra mim, era muito bonita e simpática. Tinha cabelos negros na altura dos ombros, olhos gentis e tinha classe, dava para ver no jeito como falava, nas suas roupas e na postura.
__Também acho que Matt só precisa de um pouco mais de tempo__ ela comentou__ sabe como são os adolescentes, gostam de drama.
__Eles não guardam rancor por muito tempo, se souber o jeito de dobrá-los__ Peter concordou.
Joe nos olhos feio, não parecia muito a fim de ouvir aquela conversa, então todos se calaram. Ele se levantou e caminhou até um pequeno bar que tinha ali na sala, encheu um copo com alguma bebida que eu não conhecia e bebeu tudo num gole só.
__Você conhece o Joe há muito tempo?__ perguntei a Selena para tentar descontrair.
__Sete anos__ ela disse__ minha mãe e a dele são amigas e nos apresentaram. Você é a mulher que salvou a Manu não é mesmo?

__Foi uma mistura de azar e sorte ao mesmo tempo__ dei de ombros.
Falamos mais um pouco, ela perguntou de onde eu era, se estava gostando da cidade, coisas assim e me contou que foi Joe quem lhe ofereceu o emprego de secretária quando ela estava em um momento de necessidade, assim como eu. Foi só quando ela tocou no nome da empresa... JI, que eu finalmente me manquei quem Joe Jonas era e então me senti completamente estúpida por não ter percebido antes. A JI era a empresa de publicidade mais famosa do mundo, e eu já tinha ouvido falar nesse nome... Joe Jonas, mas quem diria que eu viria a ser babá da filha dele?
A conversa não durou muito tempo, Peter estava do outro lado da sala tentando acalmar os nervos de Joe quando Selena o chamou para ir embora pois tinham que voltar a empresa e entregar os documentos que trouxeram para Joe assinar, era um assunto urgente e eles já tinham demorado demais. Estavam se despedindo quando vimos Matthew descendo as escadas. Fez-se um silencio constrangedor enquanto ele caminhava até Joe, meio cabisbaixo. 

__Pai, me desculpe por ter gritado com você e dito aquelas coisas, eu estava zangado, foi errado da minha parte desafiá-lo e eu sinto muito__ ele murmurou um pouco baixo demais.
__Tudo bem__ Joe disse e estava claro pela expressão em seu rosto o quanto estava surpreso por aquelas desculpas.
__E sinto muito ter estragado o seu trabalho__ ele continuou__ não devia estar no seu escritório. Mas antes de derrubar o refrigerante eu estava olhando os papéis da sua nova campanha e acho que posso ajudá-lo.
__Me ajudar?__ Joe ergueu a sobrancelha confuso.
__Eu fiz esses desenhos há um tempo__ ele estendeu a mão com algumas folhas na direção de Joe__ tem haver com o tema da campanha e talvez possam lhe dar alguma ideia pro comercial, era isso que o senhor estava tentando fazer não era?
__Era sim__ Joe concordou pegando os desenhos e olhando rapidamente, depois voltando a encarar o filho__ obrigado Matt.
__Fico feliz por ajudar já que fui eu quem estragou os seus projetos.
__Foi um acidente__ Joe disse__ me desculpe por ter perdido a cabeça e gritado com você.
__Tudo bem. Com licença.
E então ele se retirou, lançando-me um sutil olhar antes de subir as escadas e voltar ao seu quarto.
__Ok, o que foi isso?__ Peter perguntou confuso.
Joe fitou os desenhos na sua mão e depois olhou pra mim com curiosidade, eu corei envergonhada.
__O que foi que você disse pra ele?__ Joe me perguntou__ como conseguiu isso? Ele nunca me pediu desculpas por nada que fez, nunca dá o braço a torcer quando brigamos, pelo menos não sinceramente. 

__Ele é só um adolescente__ dei de ombros__ só precisa saber como falar com ele.
Todos ficaram me encarando de boca aberta e aquilo me deixou incomodada. Eu sempre tive jeito com crianças e adolescentes, cresci no meio deles e ajudei a criar muitos também, eu acho que tinha o dom, eu nasci pra ser mãe, mas nunca teria um filho meu, pois um filho precisava de um pai e eu queria distancia dos homens.
__Com licença, eu vou ver como a Manuela está.
Então sai da sala com todos me olhando e passei o resto da tarde no quarto brincando com Manuela.